Beyoncé de Nefertiti e hip hop entre os sarcófagos: a exposição que enfureceu o Egito
Há uma guerra cultural em curso entre os Países Baixos e o Egito. Uma exposição no Rijksmuseum van Oudheden (Museu Nacional de Antiguidades), nos Países Baixos, sobre a influência do antigo Egito sobre os músicos negros está a enfurecer as autoridades egípcias, que acusam o museu de "falsificar a história".
Corpo do artigo
O som do hip-hop ressoa ao lado de sarcófagos e estátuas. Há paredes de capas de álbuns de artistas como Tina Turner, Earth Wind and Fire e Miles Davis e uma instalação de vídeo interativa especial. Uma fotografia da cantora Beyoncé vestida como a rainha Nefertiti surge ao lado de bustos antigos, enquanto um vídeo de Rihanna canaliza estilos egípcios. E o que parece ser a máscara dourada de um faraó acaba por ser uma escultura moderna baseada na capa de um álbum do rapper Nas.
Segundo o museu, a exposição tinha dois objetivos: "mostrar e entender a representação do antigo Egito e as mensagens na música de artistas negros" e "mostrar o que a investigação científica e egiptológica pode dizer-nos sobre o antigo Egito e a Núbia".
Guerra cultural aberta
Porém, o Egito não está agradado com a exposição "Kemet" sobre a influência do antigo Egito sobre os músicos negros. O serviço de antiguidades do Egito considerou que o museu está "a falsificar a história" com a sua abordagem "afrocêntrica", que quer apropriar-se da cultura egípcia, segundo a imprensa neerlandesa.
Entretanto, o museu foi alvo de vários comentários "racistas ou ofensivos por natureza" nas redes sociais.
Em declarações ao jornal neerlandês NRC, o diretor do museu, Wim Weijland, disse que a reação do Egito foi "indecente".
Relacionamento complicado
A exposição neerlandesa, que estreou no final de abril e está aberta até setembro, surge numa altura de conflito crescente no Egito por causa de um documentário da Netflix sobre Cleópatra.
Especialistas e autoridades egípcias revoltaram-se em abril depois de a Netflix ter transmitido o documentário que retrata a antiga rainha como negra, insistindo que tinha a pele mais clara.
O museu foi alvo de críticas semelhantes de reescrever a história. As autoridades egípcias baniram os arqueólogos do museu da necrópole de Saqqara, ao sul do Cairo. Os funcionários do museu ficaram chocados, uma vez que estão ativos há quase cinco décadas no vasto cemitério, um Património Mundial da UNESCO, e lideram atualmente uma escavação naquele local.