Apesar das elevadas expectativas ao ser eleito, o percurso do democrata tem sido marcado por diversos pontos fracos. Popularidade do presidente tem estado em baixa.
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Ainda nem um ano passou desde que Joe Biden assumiu os comandos dos Estados Unidos, mas o curto percurso tem alicerçado a baixa popularidade que, nos dias de hoje, assombra um mandato que, para muitos, chegou a ser visto como a grande esperança da América.
Com Donald Trump como principal adversário, o democrata foi eleito como presidente dos EUA, sucedendo a uma liderança inundada por críticas. Na perspetiva de José Palmeira, professor de Ciência Política da Universidade do Minho, o antigo vice-presidente de Barack Obama só chegou ao poder por não ser Trump, carregando a expectativa de que tudo ia ser muito melhor. Mas não foi.
Num país castigado pela pandemia, Biden não tem sido favorecido por um contexto que é amplamente dependente de fatores externos, como é o caso da evolução das variantes. "Nas atuais circunstâncias é muito difícil fazer grandes alterações", sublinha o docente, que ainda assim, destaca os esforços no presidente neste contexto.
Por outro lado, há a questão económica. Como recorda José Palmeira, a administração Biden tem tido uma política de investimento público muito significativa, e uma das consequências que isso tem trazido é um aumento da inflação. "Este aumento acaba por absorver uma parte dos lucros. A expectativa de que o país ia ter um boom de crescimento também não está a ser correspondida", reitera.
"Outro problema é o facto da sociedade norte-americana estar fortemente polarizada. Não está tão polarizada como durante o mandato de Trump, mas continua a estar. E nesse sentido, Biden tem à perna um conjunto de críticos que nunca o largam, acabando por desacreditar a sua administração", explica o professor.
Mesmo dentro do próprio partido, Biden tem-se confrontado com várias pedras no caminho. Este mês, o senador democrata norte-americano Joe Manchin admitiu votar contra o pacote de investimentos sociais e ecológicos pensados pelo presidente, o que dificulta a aprovação e poderá implicar uma alteração do atual texto. Manchin, o político mais conservador na ala democrata do Senado, disse ao canal Fox News que não pode "votar para que esta legislação avance", apesar de ter "tentado tudo o humanamente possível" para que fosse aprovada.
A imprudência não ajuda
O contexto interno não se mostra risonho para o democrata, mas o declínio da popularidade de Biden também se deve a algumas opções relativas à política externa. "A questão do Afeganistão não contribuiu nada para o seu prestígio, sobretudo as condições em que se deu a retirada", assegura José Palmeira, lembrando o processo de desocupação das tropas norte-americanas do país que agora se encontra nas mãos dos talibãs.
Já a forma como tem lidado com a relação bilateral com a China também tem sido alvo de várias críticas. Apesar de manter a política anti-Pequim, iniciada por Donald Trump e acalentada pela opinião pública, na opinião de Rui Henrique Santos, professor de Estudos Políticos na Universidade Nova de Lisboa (UNL), a gestão de Biden neste ponto "tem sido imprudente", o que ficou bastante claro com a organização da Cimeira das Democracias, da qual o gigante asiático foi afastado. O especialista frisa ainda que os EUA não têm conseguido tirar o tapete à China, que atualmente se posiciona como grande ator global.
Ainda assim, destaca o docente da UNL, há aspetos onde o presidente norte-americano se destaca, como é o caso da resposta ao desafio climático, embora esteja condicionado pela concretização legislativa. Além da clara melhoria nas relações com a Europa, o site de notícias "Slate" evidencia como um dos pontos fortes do mandato de Biden, a forma como tem feito nomeações judicias, priorizando a diversidade dos candidatos.
O fantasma de Trump
Entre pontos fortes e pontos fracos, a verdade é que o mandato de Biden ainda nem chegou a meio, mas o futuro já começa a ser traçado, ou pelo menos antecipado. O último ano tem sido assombrado pela permanência ativa de Donald Trump na vida política. Mas José Palmeira não acredita que o republicano represente um problema para Biden nas eleições futuras, que se deverão realizar em 2024. "A invasão ao Capitólio, um dos últimos atos associados a Trump, desacreditou-o em larga escala", recorda.
Recentemente, Joe Biden admitiu numa entrevista ao canal "ABC" que uma possível recandidatura de Donald Trump às presidenciais aumentaria as hipóteses de ele próprio concorrer a um segundo mandato. Contudo, os analistas ouvidos pelo JN destacam que a idade do presidente, que já conta com 79 anos, poderá ser uma forte condicionante.
Aqui surge uma possibilidade de Kamala Harris, vice-presidente dos EUA, se lançar como candidata, ou pelo menos era o que se esperava quando a figura da democrata surgiu como braço direito de Biden. José Palmeira refere que "a governante tem tido um mandato muito apagado. Esperava-se um protagonismo maior". Por sua vez, Rui Henrique Santos, reafirma que "o gabinete e o próprio exercício do cargo pela vice-presidente demonstra uma disfuncionalidade e impreparação política que apenas confirma o resultado residual que teve nas primárias dos democratas em 2019".