Um tribunal da Bielorrússia condenou, esta quarta-feira, um jornalista e prestigiado membro da grande minoria polaca do país a oito anos de prisão, no âmbito da repressão em curso dos críticos do regime autoritário do presidente Alexander Lukashenko.
Corpo do artigo
Andrzej Poczobut, de 49 anos, foi considerado culpado de prejudicar a segurança nacional bielorrussa e "incitar à discórdia", num julgamento à porta fechada realizado na cidade ocidental de Grodno.
Poczobut, jornalista do influente jornal polaco Gazeta Wyborcza e uma eminente figura da União dos Polacos na Bielorrússia (grupo que representa a minoria polaca naquele país, que, com cerca de 300 mil, constitui a segunda maior minoria étnica, a seguir aos russos, representando 3,1 por cento da população total do país), encontra-se atrás das barras desde que foi detido, em março de 2021.
Ele noticiou e fez extensas reportagens sobre a contestação em massa que dominou a Bielorrússia durante semanas em 2020, na sequência das eleições presidenciais que deram a Lukashenko, no poder desde 1994, mais um mandato na chefia do Estado, mas que foram consideradas fraudulentas pela oposição e pelos países ocidentais.
A acusação formal de Poczobut apontou a sua cobertura dos protestos, juntamente com as suas declarações em defesa da comunidade polaca na Bielorrússia e a referência à invasão soviética da Polónia, em 1939, como um "ato de agressão" como provas da sua culpa desses crimes.
Apesar de não ter sido autorizada a presença hoje no tribunal de jornalistas independentes ou diplomatas ocidentais, nas fotografias oficiais do tribunal via-se Poczobut com olheiras escuras e aparentando uma perda de peso significativa desde o início do período de encarceramento.
O jornalista ficou na Bielorrússia durante a repressão maciça protagonizada pelas forças de segurança em resposta aos protestos, que se saldou em mais de 35 mil pessoas detidas, milhares espancadas pela polícia e dezenas de milhares de outras que fugiram para o estrangeiro.
De acordo com o conhecido grupo de direitos humanos bielorrusso Viasna, Poczobut recusou-se a assinar um pedido para ser perdoado por Lukashenko após a sua detenção.
Os parentes do jornalista polaco denunciaram também que não só lhe foram proibidas visitas da família durante todo o seu tempo de prisão, como também não foi autorizado a receber as cartas do seu filho de 12 anos.
A líder da oposição bielorrussa, Svetlana Tsikhanovskaya, descreveu hoje, na rede social Twitter, a sentença de Poczobut como uma "vingança pessoal" de Lukashenko.
"Andrzej recusou quaisquer acordos com o regime ilegal. Agora, temos de fazer tudo o que for possível para o libertar, juntamente com todos os outros reféns políticos", escreveu.
O grupo de direitos humanos Viasna incluiu Poczobut na sua lista de 1449 prisioneiros políticos detidos por Minsk.
A Associação Bielorrussa de Jornalistas (BAJ) emitiu hoje um comunicado exigindo a imediata libertação do jornalista polaco.
"Existe repressão de qualquer dissidência na Bielorrússia, e o veredicto contra Poczobut confirma que as autoridades não tencionam pôr fim ao [ciclo] de repressão", declarou o líder da BAJ, Andrei Bastunets, citado pela agência de notícias norte-americana Associated Press (AP).
Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Polónia condenou a sentença, classificando-a como injusta, numa mensagem publicada no Twitter que também descrevia Poczobut como "um patriota polaco e bielorrusso".