Biografia da rainha Isabel II, uma obra do jornalista Marc Roche, revela o lado mais intimista da monarca britânica, que este ano celebra o Jubileu de Platina.
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Marc Roche, jornalista francês que teve conversas privadas com Isabel II, tal como com altos funcionários do Palácio de Buckingham, apresenta a biografia da rainha de Inglaterra, onde faz o retrato da mulher que não nasceu para ser monarca, mas que se entregou de corpo e alma ao revés do destino. Aos 25 anos, altura em que o pai, o rei George V, morreu inesperadamente, "Lilibet" assumiu as rédeas do trono e 70 anos depois é uma das soberanas mais respeitadas da História.
Não sendo herdeira direta ao trono britânico, que educação teve "Lilibet" nos primeiros anos de vida?
Teve pouca instrução nos primeiros anos de vida. Os percetores do palácio apenas lhe ensinaram inglês, francês e história. Porém, tudo mudou após a abdicação do tio, o rei Eduardo VIII. Nessa altura, Isabel passou a ser herdeira direta ao trono e a educação que estava a receber teve de ser aprimorada, começando assim a ter aulas de história francesa e europeia no Castelo de Windsor, onde vivia com os pais e a irmã mais nova, a princesa Margaret
Conheceu e apaixonou-se pelo marido na adolescência. Que papel assumiu Filipe na sua vida?
Filipe teve um papel essencial no reinado de Isabel. Foi o duque que fez pressão para que alguns dos momentos mais importantes da família real fossem transmitidos na televisão, assumindo-se como o modernizador da administração do palácio. No entanto, não desempenhou nenhum papel na condução dos assuntos de Estado, pois a rainha recusou que tivesse acesso a documentos oficiais por receio de que a personalidade forte que o caraterizava a ofuscasse.
Isabel estava preparada para assumir o trono quando o pai, o rei George V, morreu?
Não. Tal como o livro descreve, Isabel não estava preparada para ser rainha tão jovem. Para além de não ter experiência em assuntos de Estado, era mãe de duas crianças muito pequenas. Esta falta de preparação explica o facto de ter sacrificado o papel de educadora.
Que influência teve Winston Churchill no início do reinado da monarca?
O primeiro-ministro foi muito importante como mentor e foi um verdadeiro guia para o papel político da monarca. Foi capaz de advertir, encorajar e aconselhar.
No livro descreve a relação com Margaret Thatcher como difícil. Porquê?
Eram duas mulheres com personalidades muito fortes. A rainha não gostou de algumas políticas da primeira-ministra e era contra os ideais que aplicava na economia, sobretudo em relação à classe trabalhadora. Também se opôs às sanções que Thatcher aplicou a África do Sul, pois considerava que esta posição poderia ameaçar a Commonwealth, organização à qual Isabel II sempre foi muito ligada. Ainda assim, a relação era cordial e a monarca admirava a governante. A prova disso é que lhe concedeu um funeral cerimonial e com honras militares.
A disciplina com que se apresenta ao Mundo também a carateriza dentro do palácio?
Em privado, a rainha carateriza-se por ter uma personalidade mais calorosa, por ser muito atenciosa com amigos e familiares e por ter um grande sentido de humor.
Que tipo de relação manteve com a princesa Diana?
No início, a relação era muito boa. Diana preenchia todos os requisitos para ser a futura rainha. Era virgem e tímida, tinha descendência aristocrática, era respeitada e sabia como se comportar na corte. Mas as coisas começaram a piorar quando o casamento com Carlos se deteriorou e, principalmente, depois de uma entrevista dada pela princesa. Na altura, a rainha confidenciou aos mais próximos que Diana estaria louca e que representava uma ameaça real à monarquia. Isabel II nunca entendeu a recusa da princesa em aderir aos moldes da aristocracia.
Os escândalos com a nora contribuíram para que o ano de 1992 fosse descrito como "annus horribilis"?
Foi uma das situações que marcou negativamente o ano. Mas esta designação deveu-se a uma conjuntura de acontecimentos que fizeram deste ano, um dos piores de sempre. Desde o incêndio em Windsor, à polémica fiscal até ao divórcio do filho André.
Aceitar o casamento de Carlos e Camila, e assumir que a duquesa será rainha, é um avanço dos ideais da Monarquia?
Sem dúvida. Os avanços na mentalidade são notórios. Em 2005, a monarca apoiou com alguma relutância o casamento de Carlos e Camila, sobretudo porque ambos eram divorciados. Porém, a rainha quer garantir uma sucessão ordenada e a Duquesa da Cornualha tem assumido uma boa conduta, nunca disse nada controverso e tem estado impecável no exercício do papel filantrópico.
Por outro lado, a imagem da Casa Real terá saído fragilizada após o "Megxit" e o escândalo sexual que envolveu o príncipe André...
Pelo contrário. A monarquia britânica nunca foi tão popular, pois está cada vez mais centralizada no núcleo duro da família real, que neste momento é constituído pela rainha Isabel II, por Carlos, William e o pequeno George. Os rebeldes foram deixados de lado e os britânicos estão muito mais ligados à instituição.
Escreve que William e Kate "têm um valor inestimável". O casal é a joia da coroa britânica?
Claro que sim. Quando a rainha morrer, o reinado de Carlos será curto devido à idade que já tem, portanto William e Kate poderão assumir as rédeas do trono brevemente. O casal é bem visto pelos britânicos porque representa uma mistura perfeita entre tradição e modernidade. Com eles, a instituição irá tornar-se mais modesta e menos grandiosa.
Apesar da obrigação de manter uma abordagem neutra, de que forma a rainha está a observar a guerra na Ucrânia?
Está muito solidária com o povo ucraniano e a prova disso foi a generosa doação que fez. Por outro lado, não ficou surpreendida com a atitude de Putin, pois quando o presidente russo fez uma visita oficial a Londres, em 2008, a monarca ficou com a ideia que era um homem grosseiro, sem sentido de humor e muito exigente.
Qual o segredo para um reinado tão longo e respeitado?
Nunca dar entrevistas à imprensa, não se envolver em questões políticas, manter-se longe de polémicas e sorrir.