Bloqueios e confrontos com a polícia nos protestos em França. Há cerca de 200 detidos
Cerca de 200 pessoas foram detidas, esta quarta-feira, na região de Paris no início de uma jornada de protestos com o lema "Bloqueiem Tudo" para expressar a sua rejeição ao governo francês.
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O gatilho dos protestos foi o projeto de orçamento para 2026, cujo texto previa, entre outra medidas, cortes profundos na despesa pública, incluindo o fim de dois feriados e o congelamento de pensões e salários, num total de 44 mil milhões de euros de poupanças, levando à queda do primeiro-ministro François Bayrou. O presidente francês, Emmanuel Macron, nomeou, na terça-feira, como novo primeiro-ministro o atual ministro da Defesa, Sébastien Lecornu.
Lecornu estava prestes a tomar posse esta quarta-feira, quando manifestantes foram à rua numa demonstração de oposição popular ao presidente Emmanuel Macron, provocando confrontos com a polícia e dezenas de detenções. As manifestações, lideradas por um coletivo de esquerda sob o slogan "Bloqueiem Tudo", são um batismo de fogo para Lecornu, um aliado próximo de Macron e ministro da Defesa nos últimos três anos.
Às 7.30 horas (6.30 horas em Portugal continental), as autoridades anunciaram que quase seis mil polícias e gendarmes estavam mobilizados na capital. As autoridades anunciaram a mobilização de quase 80 mil agentes em todo o país durante os protestos, que pretendem bloquear empresas, estradas e universidades.
Foto: Miguel Medina / AFP
Foto: Guillaume Horcajuelo / EPA
Durante a madrugada, centenas de jovens tentaram bloquear uma garagem de autocarros urbanos e vários pontos do anel viário de 35 quilómetros que circunda Paris, mas foram retirados pela polícia. As forças de segurança também desativaram rapidamente um bloqueio de uma garagem de elétricos em Bordeaux, no oeste de França. Manifestantes também tentaram bloquear a rodovia A10 perto de Poitiers. Na cidade de Lyon, no sudeste, manifestantes bloquearam uma estrada que atravessa a cidade e incendiaram contentores do lixo, enquanto na cidade de Nantes, no oeste, a polícia usou gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes. Na cidade portuária de Marselha, no sul, a polícia impediu que cerca de 200 manifestantes bloqueassem uma estrada principal.
Os protestos tiveram um impacto desigual em todo o país. Enquanto os comboios de alta velocidade e a maioria dos metros de Paris estavam a funcionar normalmente, outros serviços ferroviários e horários de voos foram interrompidos, incluindo nos principais aeroportos de Paris.
O ministro do Interior, Bruno Retailleau, reiterou, esta quarta-feira, que deu ordens aos polícias para "não tolerar violência, depredação, bloqueios e ocupação de infraestruturas essenciais". Até agora, foram feitas cerca de 200 detenções, a maioria delas em Paris e arredores.
Foto: Lou Benoist / AFP
Foto: Christophe Simon / AFP
As autoridades temem que os protestos se transformem num movimento como o dos "coletes amarelos" (2018-2019), que abalou o primeiro mandato de Macron. Os sindicatos também convocaram uma greve para 18 de setembro.
Lecornu é o sétimo primeiro-ministro desde que Macron assumiu o cargo em 2017, o terceiro no espaço de um ano. O seu primeiro desafio será dar a França um orçamento para 2026 sem sofrer o mesmo destino de Bayrou, que durou apenas nove meses.