Governo francês caiu na Assembleia Nacional e o primeiro-ministro apresenta amanhã a demissão a Macron, que já anunciou a nomeação de um novo primeiro-ministro e não a realização de novas eleições.
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França voltou, esta segunda-feira, a mergulhar na incerteza com o chumbo da moção de confiança apresentada pelo Governo de François Bayrou, que deverá terça-feira apresentar a demissão ao presidente, Emmanuel Macron. No cargo há nove meses, o primeiro-ministro francês justificou a apresentação desta moção perante os 577 deputados, e que muitos classificaram como suicídio político, com a necessidade de uma "prova da verdade", numa Assembleia Nacional fragmentada (em três blocos: esquerda, centro-direita e extrema-direita) e sem maioria. "O maior risco era não correr esse risco, deixar as coisas continuarem sem mudar nada", sublinhou.
De pouco valeram as várias reuniões de negociação prévias e dramatização do discurso de hoje, em que comparou "a submissão à dívida" à "submissão pela força militar", que priva da liberdade. Juntando a esquerda e a extrema-direita, 364 deputados não se deixaram comover com os argumentos e recusaram um voto de confiança ao Executivo. Feitas as contas, até elementos da coligação que apoia o Governo votaram contra o primeiro-ministro. Na origem da crise, a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano, que atirou o país novamente para uma convulsão, por o texto prever, entre outra medidas, cortes profundos na despesa pública, incluindo o fim de dois feriados e o congelamento de pensões e salários, num total de 44 mil milhões de euros de poupanças. A proposta orçamental tinha, à partida, chumbo garantido, daí a antecipação de Bayrou.
Macron nomeia novo ministro
Com a apresentação de demissão do sexto primeiro-ministro desde que chegou ao Eliseu, Macron já anunciou que vai nomear um sétimo primeiro-ministro nos próximos dias, acabando à partida com a incógnita sobre uma possível ida a eleições, como pediam o Partido Socialista, que já demonstrou vontade de governar, e a União Nacional, de Le Pen e Jordan Bardella. Resta saber o perfil do senhor que se segue, com analistas a aventar que possa sair do campo socialista, para tentar gerar consensos.
Eleições nesta fase não seriam garantia de maior estabilidade e um dos alvos da oposição é mesmo o presidente, que sofre uma longa crise de popularidade. A França Insubmissa, de Mélenchon, pede mesmo a saída do inquilino do Eliseu. Uma sondagem realizada pela Odoxa-Backbone para o jornal "Le Figaro", citada pela AFP, revela que 64% dos franceses querem que Macron se demita em vez de nomear um novo primeiro-ministro. A delicadeza da decisão agudiza-se com o taticismo inerente às presidenciais de 2027.