As três principais bolsas de valores chinesas começaram a sessão desta quinta-feira a subir, apesar dos Estados Unidos terem elevado para 125% as tarifas sobre os produtos importados da China.
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O índice de referência da bolsa de Hong Kong, o Hang Seng, chegou a ganhar 4,38% nos primeiros minutos de negociação e estava ainda a subir 3,45% às 10.35 horas (3.35 horas em Lisboa).
O Hang Seng sofreu uma queda de 13,2% na segunda-feira, por receio de uma recessão global provocada pelas tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo, embora tenha fechado em alta nos últimos dois dias.
Na bolsa da cidade vizinha, Shenzhen, o índice de referência chegou hoje a subir 3,43%, enquanto o índice da bolsa da capital financeira da China, Xangai, atingiu uma alta de 1,64%.
Os índices das bolsas de Shenzhen e Xangai tinham caído 9,66% e 7,34% respetivamente, na segunda-feira.
Desde então, conseguiram recuperar parcialmente, graças ao apoio ao mercado anunciado por investidores estatais e aos planos de compra de ações levados a cabo por grandes empresas chinesas.
Mas a recuperação mais acentuada aconteceu no índice de referência da bolsa de Taipé, o Taiex. O índice, que tem uma forte componente tecnológica, abriu com ganhos recorde de 9,27%.
As principais empresas tecnológicas da ilha tiveram fortes ganhos durante as fases iniciais da sessão, com a TSMC, a MediaTek, a Delta Electronics e a Foxconn a atingirem o limite diário de subida, 10%.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump anunciou na quarta-feira uma suspensão de 90 dias daquilo a que chamou de "tarifas recíprocas", exceto para a China, país a que impôs tarifas totais de 125%.
Isto horas depois de Pequim ter anunciado uma taxa adicional de retaliação de 50% sobre as importações oriundas dos Estados Unidos, a juntar às tarifas de 34% anteriormente anunciadas, atingindo um total de 84%.
Além deste aumento das taxas, que entram em vigor hoje, a China acrescentou várias empresas norte-americanas às listas de controlo de exportações.
A guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo aumentou rapidamente, no meio da elevada volatilidade do mercado e dos crescentes apelos internacionais à moderação.
A China insistiu que não quer uma guerra comercial, mas que "não tem medo de a enfrentar, se for necessário".
Deflação pelo segundo mês consecutivo
O índice de preços no consumidor (IPC), o principal indicador da inflação na China, caiu 0,1% em março, em termos homólogos, marcando o segundo mês consecutivo em queda, após ter caído 0,7% em fevereiro.
O indicador, divulgado hoje pelo Gabinete Nacional de Estatística (GNE) do país asiático, está abaixo das previsões dos analistas, que esperavam um ligeiro aumento de 0,1%, e agrava os riscos deflacionários na segunda maior economia do mundo.
O risco de deflação na economia chinesa agravou-se no último ano, suscitado por uma profunda crise imobiliária, que afetou o investimento e o consumo.
Mas a queda dos preços em fevereiro foi a primeira contração em treze meses, influenciada também pela base de comparação: em 2024, o Ano Novo Lunar, a principal festa das famílias chinesas, calhou integralmente em fevereiro, mas este ano a série de feriados calhou no final de janeiro e prolongou-se pelo mês seguinte.
A deflação consiste numa queda dos preços ao longo do tempo, por oposição a uma subida (inflação). O fenómeno reflete debilidade no consumo doméstico e investimento e é particularmente perigoso, já que uma queda no preço dos ativos, por norma contraídos com recurso a crédito, gera um desequilíbrio entre o valor dos empréstimos e as garantias bancárias.
Numa base mensal, os preços em março caíram 0,4%, um declínio mais acentuado do que o previsto pelos especialistas, que esperavam uma queda de 0,2% em relação ao mês anterior.
Dong Lijuan, estatístico do GNE, atribuiu a evolução dos preços à “sazonalidade e a fatores externos" e acrescentou que o facto de os preços terem caído a um ritmo mais lento do que em fevereiro está relacionado com “políticas de aumento da procura”.
Dong salientou ainda que os efeitos dos planos de “renovação” levados a cabo pelas autoridades e empresas para estimular o consumo estão “a aparecer gradualmente”. Ao abrigo daquele programa, as autoridades estão a subsidiar a troca de dispositivos eletrónicos antigos por modelos novos.
“A estrutura da oferta e da procura melhorou e os preços mostraram algumas mudanças positivas”, disse Dong.
O especialista sublinhou que a inflação subjacente - uma medida que elimina o efeito dos preços dos alimentos e da energia devido à sua volatilidade - subiu 0,5%, em termos homólogos, a um ritmo mais rápido do que o registado em fevereiro, quando avançou 0,1%.
O índice de preços no produtor (PPI), que mede os preços industriais, registou uma descida homóloga de 2,5%, no terceiro mês do ano, uma queda mais acentuada do que a registada em fevereiro, de 2,2%, informou o GNE.