Presidente brasileiro tem somado elevadas taxas de rejeição. Especialistas acreditam que para reconquistar o povo, chefe de Estado irá lançar "políticas populistas".
Corpo do artigo
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, começa hoje o último ano de mandato. Mas a possibilidade de reeleição em 2022 parece estar cada vez mais distante. O líder conservador, escolhido para o cargo em 2018, soma agora a maior taxa de rejeição desde a redemocratização do Brasil, uma larga pasta de acusações criminosas, um país a enterrar-se na pobreza, com a pior taxa de desemprego dos últimos nove anos e a ser dizimado pela fome.
Perante os desastrosos resultados das sondagens, Bolsonaro já ativou a máquina política para o último ano eleitoral e está a tentar manter-se à tona do mar de promessas por cumprir. A estratégia parece ser a mesma há três anos: "medidas populistas" - como o reforço dos auxílios e subsídios - e "uma governação muito ideológica", antevê Carlos Fino, jornalista doutorado em Comunicação pela Universidade do Minho e ex-conselheiro da embaixada portuguesa no Brasil.
Neste último ano de mandato, Bolsonaro trará "mais do mesmo", ou seja, "uma governação centrada nas "lives" [vídeos em direto] semanais nas redes sociais com que o presidente mantém mobilizada a sua base de apoio, numa linguagem brega". Estratégia de comunicar que valeu, esta semana, a Bolsonaro uma expulsão temporária do YouTube por desinformação.
Um ardil "em jeito de desafio ao sistema que mascara uma política errática e no fundo ultraconservadora", acrescenta Carlos Fino, destacando que Bolsonaro "pouco ou nada inovou e esteve muito longe das promessas eleitorais de há três anos" com as quais "atraiu o apoio dos setores liberais".
Brasil ainda mais dividido
Já Raquel Patrício, especialista em estudos latino-americanos e investigadora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, acredita que do próximo ano de mandato de Bolsonaro pode esperar-se "muito pouco" política e socialmente, mas "muito em termos de atos e ações de campanha eleitoral que podem, nem sempre, seguir o caminho da via pacífica".
A tarefa de Bolsonaro não é, de todo, fácil. A realidade do Brasil em 2021, "é extremamente pior do que a encontrada por Bolsonaro quando foi enfaixado presidente", assevera a académica, insistindo que nos últimos três anos "não só não conseguiu unificar o país, desunindo-o ainda mais, como não soube enfrentar da melhor forma os desafios que se impuseram ao Brasil".
Presidente imprevisível
É possível que Bolsonaro não aguente o último ano de mandato, atenta Raquel Patrício. Não somente "pelo facto de se negar cumprir com as determinações judiciais do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes", que pode resultar "impeachment de Bolsonaro e perda consequente dos seus direitos políticos por oito anos", mas também por ter sido acusado pela Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou ações e omissões do Governo brasileiro na pandemia, de nove crimes, incluindo contra a humanidade, pela morte dos mais de 600 mil brasileiros de covid-19.
Ainda assim, e apesar de Bolsonaro ter atingindo os 53% de reprovação dos brasileiros em setembro deste ano, "Bolsonaro não deve ser subestimado", avisa Carlos Fino. "O aumento dos subsídios à população mais pobre - o antigo Bolsa Família, agora renomeado Auxílio Brasil - vai começar e o Governo mostrou que não hesitará em sacrificar o rigor financeiro para tentar a reeleição". Com esta decisão, o presidente brasileiro mostrou esta semana que está disposto a sacrificar a reforma liberal pedida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para elevar a popularidade e reverter os efeitos da "desgovernação" dos últimos três anos.
Crime contra a humanidade é "palhaçada"
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, classificou de "palhaçada" o relatório da comissão parlamentar de inquérito do Senado do país que o acusou de crimes contra a humanidade e outros oito crimes na pandemia de covid-19. O chefe de Estado brasileiro, admitiu que a acusação "causa muitos problemas", mas que não está preocupado com o seu futuro. Todavia reconheceu que "fora do Brasil a imagem é péssima".