Reino Unido está no top 3 das nacionalidades estrangeiras em Portugal, com 34 mil residentes. Uns fogem da incerteza política e outros, que já cá estavam, passaram a declarar morada.
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Nunca houve tantos pedidos de autorização de residência em Portugal provenientes de cidadãos britânicos como em 2019. No ano passado, 8349 cidadãos naturais do Reino Unido (RU) declararam morada em território português, o que coloca a nacionalidade britânica como a segunda que mais cresceu, logo a seguir ao Brasil, líder destacado com quase 50 mil novos residentes.
Segundo dados provisórios, não consolidados, revelados ao JN pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), os britânicos com residência declarada em Portugal são agora 34 340. São a terceira maior comunidade, depois dos nascidos no Brasil e em Cabo Verde.
Na base deste aumento está o Brexit, cujo referendo ocorreu a 23 de junho de 2016 e deve ser confirmado esta semana em Bruxelas. No último ano antes da consulta (2015), o SEF contabilizava 17 230 britânicos com morada em Portugal. Até 2019, o número cresceu 100% e passou para 34 340.
De acordo com fonte da embaixada do RU em Portugal, "é verdade que aumentou o número de cidadãos britânicos" que reside em solo nacional, mas o aumento dos pedidos de autorização de residência "também acontece porque muitos que já residiam perceberam a importância de se registarem agora, devido ao Brexit". Ou seja, face à incerteza do que pode acontecer com a saída do Reino Unido da União Europeia, muitos britânicos com morada em Portugal não querem perder a liberdade de circulação entre os dois países. E olham para o pedido de autorização de residência como uma forma de assegurar que não vão ter esse problema no futuro.
A constatação é corroborada por Michael Reeves, diretor-executivo da Associação de Proprietários Estrangeiros em Portugal (Afpop): "A maior percentagem desses pedidos é de cidadãos que estão a regularizar, mas o Brexit também é um dos fatores para a chegada de mais britânicos a Portugal". Para Michael, há muitos cidadãos "que encontram em Portugal um clima político favorável e estão cansados da instabilidade política do RU".
Depois, a escolha de Portugal prende-se com o que os ingleses entendem ser as qualidades do nosso país, como o clima do Algarve, a elevada percentagem de população que fala inglês, a proximidade geográfica ao Reino Unido, a maior segurança em comparação com o país de origem, o custo de vida baixo e as campanhas em curso para atrair ingleses, como a do "Brelcome" (ler ao lado).
Há, ainda assim, duas ameaças que podem travar esta procura, alerta o dirigente da Afpop: "A taxa de câmbio entre o Euro e a Libra Inglesa, que pode ficar desfavorável, e o aumento ridículo do preço das casas em Portugal".
De acordo com a embaixada inglesa, o Algarve é o principal destino, seguido do eixo Lisboa/Cascais e, depois, da Região Centro, onde Municípios como Tomar, Pombal, Condeixa-a-Nova e Pedrógão Grande têm assistido à chegada de muitos britânicos. "Há uma relação de muitos anos de saber acolher estas pessoas, nomeadamente cidadãos mais seniores", ilustra António Miguel Pina, autarca de Olhão e presidente da AMAL, a Comunidade Intermunicipal do Algarve. "É claro que o Brexit preocupa", mas "o Estado português já tem dado nota de se estar a preparar para que estes cidadãos continuem a ter as facilidades que tinham quando eram cidadãos europeus".