Finlandeses dirigem-se às urnas com partido de extrema-direita perto de derrubar primeira-ministra.
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Aos 34 anos, tornou-se a primeira-ministra mais jovem de sempre e, rapidamente, viu o índice de popularidade cavalgar. Quatro anos volvidos, Sanna Marin está com dificuldade em manter-se no poder, ameaçada pela ascensão da extrema-direita, antecipam as sondagens. Após uma pandemia, festas polémicas e com uma guerra às portas do país, o "brilho de Marin" já não é o mesmo, constata Juha Wikstrom, um finlandês com quem o JN conversou, antecipando a eventual queda de uma estrela internacional.
"Tal como o resto da Europa, a Finlândia passou por momentos difíceis. Ainda assim, considero que o Executivo de Marin se saiu melhor na política externa do que na interna. A primeira-ministra parece agora frustrada", considera o diretor de marketing e comunicação, numa opinião que, a ser partilhada por outros finlandeses, pode justificar o declínio de Marin. A mais recente sondagem publicada pela televisão Yle mostra que a Coligação Nacional (NCP), partido de centro-direita, tem a preferência dos eleitores, registando 19,8% das intenções de voto. Segue-se o Partido dos Finlandeses (PS), de cariz conservador, com 19,5% e, em terceiro, surge o Partido Social Democrata (SDP), de Sanna Marin, com 18,7%. A diferença de valores entre cada um dos partidos é tão curta que impossibilita uma antecipação do desfecho eleitoral de hoje.
Pedro Ponte e Sousa, especialista em Relações Internacionais da Universidade Portucalense, frisa que, perante este cenário, "ser o mais votado não será suficiente para qualquer partido", notando que "o novo Governo precisará de conseguir uma maioria parlamentar com os demais partidos".
Tendo em conta os dados antecipados pela sondagem, há uma grande probabilidade de ser alicerçada uma aliança à Direita, que deverá incluir o NCP, o PS, o Partido Democrata-Cristão e o Movimento Agora, adivinha Pedro Ponte e Sousa. Outra possibilidade será a construção de uma "geringonça" à Esquerda, com os sociais-democratas de Marin a liderarem uma coligação de cinco partidos.
Na perspetiva do analista, a queda na popularidade da líder deve-se ao facto de o partido se ter distanciado "de questões prioritárias para os trabalhadores".
Para Juha Wikstrom, de 53 anos, os grandes erros de Marin foram "a desvalorização do sistema de saúde" e as opções no âmbito económico. Mesmo assim, considera que, a nível de política externa, a governante desempenhou um papel de relevo, nomeadamente "no seio da UE durante a guerra". Já Kalle Snellman, que trabalha como consultor, realça que a "falta de experiência" pode ter prejudicado Marin, mas reconhece que o seu perfil, que espelha uma política com uma "vida normal", beneficiou "a imagem do país no Mundo".
Fragmentação política
Naquele que, este ano, foi considerado o país mais feliz do Mundo pela sexta vez, Marin tem adotado uma política que passa por avultados gastos na educação e em serviços públicos, optando por aumentar os impostos em prol do que considera ser o segredo para o crescimento económico.
Em contrapartida, o NCP, liderado por Petteri Orpo, propõe drásticos cortes, já que a dívida pública finlandesa aumentou para 70,9% do PIB no último trimestre de 2022. Enquanto isso, Riikka Purra, líder do PS, eleva como prioridade travar a imigração de pessoas provenientes de países que não pertencem à UE. "Tenho receio do surgimento de pensamentos extremistas e da falta de humanidade em muitas questões", admite Juha Wikstrom, relativamente a uma eventual glória conservadora.
Para já, tudo não passa de temores. Num cenário de fragmentação parlamentar, a vitória não significa que o líder do partido com mais votos possa formar Governo. Tudo "vai depender do resultado dos partidos pequenos", alerta Emilia Palonen, especialista da Universidade de Helsínquia, em declarações ao jornal britânico "The Guardian".
Progressista, feliz e sempre atento
País pioneiro na igualdade de género
Em 1906, a Assembleia Nacional da Finlândia, a Eduskunta, tornou-se no primeiro Parlamento do Mundo a adotar a igualdade de género, ao permitir que as mulheres concorressem a cargos políticos. Mais de 100 anos depois, Sanna Marin tornou-se mundialmente conhecida por, aos 34 anos, ser eleita a primeira-ministra mais jovem de sempre. Numa liderança marcada pela participação em festas polémicas - que a levaram a fazer pedidos de desculpas públicos -, Marin mostrou que além de ser líder de um dos países mais progressistas do globo, também pode ter uma vida social ativa.
Os segredos da nação mais feliz do Mundo
Em 2023, e pelo sexto ano consecutivo, o país nórdico foi eleito como o mais feliz do Mundo. Apesar de a Finlândia também sofrer com os efeitos da inflação, a baixa corrupção, a vida em comunidade, a liberdade para tomar decisões e a sustentabilidade são algumas das razões que aumentam os níveis de felicidade dos finlandeses. Tendo em conta o relatório do World Happiness Report, Portugal encontra-se em 56.º lugar.
Neutralidade descartada: Finlândia vai pertencer à NATO
A Finlândia, que partilha uma fronteira de mais de mil quilómetros com a Rússia, abandonou a posição neutral, mostrando interesse em fazer parte da NATO. Ultrapassado o último entrave, a ratificação da Turquia à integração, Helsínquia fará brevemente parte da família transatlântica. Os dois finlandeses com quem o JN falou "aprovam a 100%" a adesão do país à aliança, porém, este avanço não deverá ter peso no escrutínio. "A questão da NATO não é propriamente vista como sendo determinante no voto", realça Pedro Ponte e Sousa.