Ex-governante recebe, esta sexta-feira, medalha de mérito da Câmara do Porto. Sobre a "violação flagrante" de direitos em Macau, diz acreditar que "ainda há liberdade".
Corpo do artigo
A articulação do apoio da China ao Porto, na fase inicial de pandemia, no fornecimento de máscaras e ventiladores, contribuiu para o reconhecimento que hoje receberá da Câmara do Porto, com a atribuição da Medalha Municipal de Mérito. Alexis Tam foi secretário para os Assuntos Sociais e Cultura no Governo de Macau e chefia hoje a Delegação Económica e Comercial da Região Administrativa Especial chinesa em Portugal, apostado no estabelecimento de parcerias entre os dois países, sobretudo no âmbito do turismo. Sobre as recentes denúncias que chegaram à ONU relativas à "violação flagrante" dos direitos civis e políticos em Macau, diz apenas acreditar que "ainda há liberdade" na região.
"O meu trabalho, devo dizer, não foi nada, é algo que qualquer pessoa deve fazer", resume Alexis Tam, ao recordar o dia em que Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, lhe ligou a pedir apoio "para arranjar equipamento de cuidados de saúde, nomeadamente ventiladores e máscaras".
Tam tratou de articular a comunicação entre o município e a cidade chinesa de Shenzhen que, tal como Macau, está geminada com o Porto, o que permitiu suprir necessidades mais imediatas de equipamentos.
Em resposta enviada ao JN, Rui Moreira salienta que "Alexis Tam foi uma figura fundamental na articulação da ajuda ao Porto durante o período mais crítico da pandemia". O autarca diz ainda não esquecer o papel de Tam "na promoção de políticas activas de incentivo ao ensino e aprendizagem da língua portuguesa em escolas públicas e privadas do ensino não superior, em Macau, onde o número de alunos e de professores de Português duplicou".
A um "autêntico embaixador dos interesses portugueses, e muito particularmente dos interesses do Porto, naquele território", o município presta hoje "homenagem", com a atribuição da medalha municipal de mérito, grau ouro.
A relação entre a Delegação Económica e Comercial com o Porto vai para além da colaboração prestada no âmbito da pandemia. Alexis Tam direciona a atenção para o turismo e explica porquê: "Porto e Macau são muito semelhantes, em termos de dimensão. São cidades de património mundial, todas as autoridades estão a prestar atenção à promoção do turismo. Temos tantas coisas a fazer nas duas cidades. Portugal é um país de que os chineses gostam. O povo chinês quer estabelecer contactos em todas as áreas com Portugal, e penso que o Porto está muito aberto. Vejo que a Câmara está muito aberta a atrair turismo e investimento chineses, em todos os campos".
Violação de direitos
Jason Chao, ativista pró-democracia de Macau, denunciou esta segunda-feira, no Comité dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra, o que chamou de "violação flagrante" de direitos civis e políticos em Macau. Chao, coordenador do Macau Research Group, apresentou como exemplos a desqualificação de candidatos pró-democracia à Assembleia Legislativa, nas eleições de 2021, mas também a proibição de manifestações, em Macau, contra a violência policial em Hong Kong, durante os protestos de 2019, tal como a proibição, desde 2020, da vigília anual em memória das vítimas do massacre de Tiananmen.
Alexis Tam não comenta as denúncias, diz preferir não falar. Considera, ainda assim, que "continua a haver liberdade de expressão" na região chinesa.