À porta da Universitat de Barcelona, a fila para votar era tão grande que Jaume teve que recuar até ao final dos anos 70 para se lembrar de um cenário semelhante.
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"Nunca tinha visto tanta gente a votar desde 1978, quando aprovámos a Constituição", diz o professor de 62 anos ao JN, com emoção na voz. Na altura, não sabia bem o que fazer porque era a primeira vez que votava. Agora, está mais do que habituado: em apenas cinco anos, é a terceira vez que participa numas eleições autonómicas.
Com 31 anos, Clara não pode fazer exercício de memória tão grande até porque, diz, as filas para votar no dia 1 de outubro eram igualmente longas em muitos colégios eleitorais espalhados na Catalunha.
"Infelizmente, naquele dia não pudemos votar livremente", lamenta. Pouco mais de dois meses depois da celebração do referendo independentista, os catalães voltam a ser chamados a votar. Desta vez, o que está em causa é a escolha dos 135 deputados no Parlament. Desta vez, numas eleições livres, convocadas por Mariano Rajoy, sem a polícia espanhola a rodear os eleitores.
A Pau, Jaume e José espera-os um longo dia. São apoderados (representantes) da Candidatura de Unidade Popular (CUP) e vão manter-se durante todo o dia junto às mesas de voto para garantir que a votação corre com normalidade. Devido às suspeitas levantadas nos últimos dias de possível fraude nestas eleições, garantem que durante a contagem dos votos haverá pelo menos um apoderado de um partido independentista em cada mesa eleitoral. Ainda assim, estão convictos de que tudo "vai correr com total normalidade".
Às onze em ponto entra no recinto da Universitat de Barcelona o candidato do Partido Socialista Catalão, Miquel Iceta. Sorridente, o dirigente que muitos apontam como possível presidente da Generalitat (por ser o mais bem colocado para conseguir o apoio das formações não independentistas), deposita o voto e espera que a nuvem de jornalistas que o rodeia esteja a postos antes de proferir algumas palavras.
Primeiro em catalão e depois em castelhano, Iceta congratula-se do que se afigura como uma elevada participação dos eleitores: "é uma grande alegria para qualquer democrata, porque uma participação alta dá força e legitimidade ao resultado". Depois, ainda umas palavras em inglês: "vamos respeitar o resultado que sair das urnas e vamos trabalhar com outros partidos para levantar o país, mudar de rumo e conseguir maior autonomia".