Convocadas de forma anticipada pelo presidente da Generalitat, Artur Mas, as eleições autonómicas da Catalunha, Espanha, marcadas para o próximo domingo têm contornos especiais: além de determinarem a composição do Parlamento catalão, poderão decidir o futuro da região.
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"Quero uma Catalunha livre". Carles escreve a frase num pequeno "post-it" amarelo e depois cola-o junto às mensagens de outros apoiantes da candidatura Junts pel Sí. O comício eleitoral da lista independentista está prestes a começar e a praça central de Sabadell, perto de Barcelona, já está cheia. Com a estelada (a bandeira independentista catalã) a cair-lhe pelas costas, Carles tem os argumentos favoráveis à separação do resto de Espanha na ponta da língua: "temos capacidade para nos governarmos, não precisamos dos políticos de Madrid. Depois da independência, viveremos melhor", diz ao JN.
O ambiente é de festa. Famílias completas, carrinhos de bebé, crianças de colo... O evento de Sabadell é multitudinário. Vieram para ouvir os representantes da coligação que conseguiu aglutinar os dois maiores partidos catalães - Convergència Democrática de Catalunya e Esquerra Republicana - com o objetivo de avançar com o projeto independentista.
A avaliar pelas sondagens, o projeto de secessão poderia mesmo começar a ganhar forma a partir de 27 de setembro, uma vez que a lista Junts pel Sí se encontra muito perto da maioria absoluta e tendo em conta que o processo conta ainda com o apoio da candidatura anticapitalista CUP.
A votação poderá, no entanto, apresentar um resultado muito equilibrado, uma vez que o setor não independentista, embora mais fragmentado, poderia alcançar globalmente uma votação próxima dos 50%.
Tanto partidos de direita (Ciudadanos e PP) como de esquerda (Podemos e PSOE) têm aproveitado a reta final da campanha para apelar ao voto dos catalães que não se reveem no projeto separatista. María Carbó é uma das eleitoras que ainda está indecisa sobre em quem vai votar no domingo. No entanto, tem uma certeza: "não é a levantar fronteiras que vamos alcançar mais liberdade". A jovem informática lamenta, no entanto, que o debate gerado se restrinja ao Sim ou Não, deixando de lado "as verdadeiras preocupações da cidadania".
Os avisos aos "perigos" da independência
Com a campanha eleitoral perto do fim, intensificam-se também as advertências por parte do Estado central espanhol contra o processo independentista. Por um lado, o governador do Banco de Espanha, Luís María Linde advertiu esta semana sobre o "risco" de controlo de capitais na banca caso ganhem os separatistas. Por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros, José García Margallo, afirmou que uma Catalunha independente teria 37% de desemprego, pelo que estaria em causa o pagamento das pensões. Finalmente, o presidente do Governo, Mariano Rajoy, argumentou numa entrevista radiofónica que os cidadãos catalães deixariam de ser espanhóis e europeus, mas teve que ser retificado pelo próprio jornalista, que lhe recordou que esse cenário não seria constitucional.