Entre 500 a 700 jovens de Macau concentraram-se, esta quarta-feira, na Praça da Amizade, centro da cidade, em "solidariedade" para com o movimento pró-democrático de Hong Kong, numa ação inédita que tentou marcar uma nova era nas reivindicações políticas locais.
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"É o nosso futuro, o que pretendemos, mas queremos que nos oiçam de forma pacífica, ordenada e queremos mostrar que este movimento solidário com Hong Kong, que já abrange 63 cidades no mundo, quer o bem e quer realizar a vontade popular de Hong Kong", disse Edwin Hoi, um dos elementos que integraram a manifestação, exigindo mais democracia mas o respeito dos direitos cívicos.
De forma pacífica para uma "manifestação" do dia 01 de outubro, o Dia Nacional da China que há mais de sete anos é aproveitado para contestar nas ruas, e ruidosamente, as políticas do Governo local e da China face a Macau, a concentração de jovens visou mostrar "solidariedade" para com os colegas de Hong e "serviu de apelo" às polícias da antiga colónia britânica "para que não voltem a usar a força contra uma população pacífica e indefesa", sublinhou Edwin Hoi, um dos organizadores.
Com um contingente policial que não era muito visível e que até foi diminuindo, os manifestantes gritaram palavras de ordem como "liberdade para Hong Kong".
Entre a assistência, sentada no chão da Praça da Amizade, um desenho do arquiteto português Carlos Couto, responsável pelo design do Pavilhão de Portugal na Exposição Mundial de Xangai, estavam caras conhecidas da política local, os deputados pró-democratas Ng Kuoc Cheong e Au Kam San.
Em declarações à agência Lusa, Ng Kuoc Cheong saudou o movimento dos estudantes quer em macau quer em Hong Kong, lembrou o "desejo" dos povos das duas Regiões Administrativas Especiais em escolherem o seu chefe do Governo e disse que, se em 2019 Macau tiver a concessão de escolher o seu líder mesmo triado por um grupo favorável a Pequim não é o ideal, mas é melhor do que existe hoje.
"Não é o ideal a população escolher alguém entre candidatos previamente selecionados, mas é melhor do que existe hoje", sublinhou ao lembrar que ele próprio apresentou à sociedade um plano de desenvolvimento democrático em Macau que prima pela visão "gradualista" e não "radicalista".
"Não será o ideal, mas será um avanço rumo ao que queremos atingir", voltou a dizer Ng Kuoc Cheong ao salientar ainda que o desenvolvimento "é feito de passos" e não de "ruturas".
Já Mark, um quase sexagenário funcionário de um casino local, estava na praça para apoiar o filho, um dos promotores do evento e garantia que a "forma pacífica da manifestação irá, no futuro, ser muito importante".
"Veja estes jovens, veja como eles estão calmos reivindicando o seu futuro, veja como se comportam que nem a polícia está aqui porque percebeu rapidamente que uma nova forma de protesto está a nascer em macau", disse, orgulhoso.
Com centenas de pessoas de laço amarelo no peito, uma cor de "liberdade" que pretende vincar o movimento, o senhor Mark perdia-se junto daqueles que ouviam e gritavam palavras de ordem e de estímulo para Hong Kong, e dizia, depois de confirmar que o jornalista era português, que "Macau vai crescer", salientando o crescer, já em inglês, como o desejo de desenvolvimento do processo político.