A uma semana da reunião decisiva do Conselho de Estado, que vai verificar a conformidade constitucional da lei do aumento da idade da reforma, ou validar um pedido de referendo, sindicatos e movimentos sociais voltaram, esta quinta-feira, às ruas para contestar o diploma, na 11.ª mobilização, com centenas de milhares de manifestantes em várias cidades. E novamente com confrontos.
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Em Paris, as cifras da Confederação Geral do Trabalho (CGT) apontam 400 mil manifestantes, destacando-se também 170 mil em Marselha, 60 mil em Bordéus e 32 mil em Lyon. O Ministério do Interior contrapõe 57 mil na capital e 570 mil em todo o país.
Ocorreram novos confrontos e o uso da força por parte da Polícia. Há também registo de caixotes de lixo incendiados e lojas e bancos atacados, lançamento de pedras contra a Polícia, que recorreu a cargas, bastonadas e gases lacrimogéneos. Há dezenas de detidos. Em Nancy, a porta da delegação do Banco de França foi incendiada.
As imagens de violência contrastam com outras, maioritariamente pacíficas, como as da chegada da cabeça da manifestação parisiense à Praça de Itália.
Em causa está o aumento da idade de reforma dos 62 para os 64 anos a partir de 2030 (os sindicatos reclamam, pelo contrário, a redução para os 60 anos) e a fixação em 43 o número de anos de carreira contributiva para conferir direito a pensão sem penalização.
Ideia central da campanha do presidente francês, Emmanuel Macron, a reforma das pensões foi apresentada em janeiro no Parlamento, tendo sido contestada nas ruas e rejeitada por dois terços dos inquiridos em estudos de opinião invocados pela agência France Presse.
"Crise democrática"
A contestação intensificou-se em meados de março, quando o Governo anunciou o recurso a uma norma constitucional que permite ao presidente da República aprovar por decreto uma lei que a Assembleia Nacional não votou.
O pico da contestação foi atingido em 7 de março, quando cerca de 1,3 milhões de pessoas saíram às ruas, segundo o Ministério do Interior, ou 3,5 milhões, nas contas dos sindicatos, em várias cidades do país, marcadas por confrontos.
A palavra final cabe agora ao Conselho de Estado, que no próximo dia 14 deverá pronunciar-se sobre a constitucionalidade da medida, mas as organizações sindicais continuam a apostar na sua derrota nas ruas.
"A única solução é a retirada da reforma", afirmou a nova secretária-geral da CGT, Sophie Binet, falando aos jornalistas no início do desfile de Paris, chamando a atenção para a "profunda revolta" dos franceses.
O secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), Laurent Berger, alertou Emmanuel Macron para a "crise democrática" que a insistência no seu projecto está a criar, alertando-o para "o risco de ascensão da extrema-direita".