Governo separatista arménio planeia retirar milhares do enclave no Azerbaijão após ofensiva militar do Executivo de Baku, o que traduz um êxodo histórico de arménios étnicos.
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As primeiras centenas de refugiados da região de Nagorno-Karabakh cruzaram hoje a fronteira para o território arménio, numa altura em que o Azerbaijão se prepara para assumir o controlo do enclave separatista, depois de uma operação militar, lançada a 19 de setembro, que resultou em centenas de mortos e feridos. O movimento de deslocados veio permitir o reencontro de famílias separadas após um bloqueio de dez meses.
Autoridades do Governo separatista arménio em Nagorno-Karabakh anunciaram já, segundo o jornal “The Guardian”, que pretendem retirar milhares de pessoas da região para a Arménia. O extenso bloqueio do território pelo Azerbaijão conduziu a uma escassez de alimentos, água e combustível na capital do enclave, Stepanakert, e nas áreas circundantes.
O Executivo local apelou ao Azerbaijão para abrir a estrada ao longo do corredor de Lachin para a Arménia, para permitir a entrada de ajuda humanitária e a saída da população de etnia arménia de Nagorno-Karabakh. Um êxodo massivo que traduz o receio manifestado por muitos de uma limpeza étnica quando as autoridades do Azerbaijão assumirem o controlo da região.
Ainda segundo o Executivo do enclave, serão acompanhados através da fronteira da região disputada por Arménia e Azerbaijão por forças de paz russas. “Queridos compatriotas, gostaríamos de informar que, acompanhados pelas forças de manutenção da paz russas, as famílias que ficaram desalojadas como resultado das recentes operações militares e que manifestaram o desejo de partir serão transferidas para a Arménia”, refere um comunicado, citado pelo mesmo jornal. “O Governo divulgará informações sobre a realocação de outros grupos populacionais num futuro próximo”, acrescenta a nota.
Depois de o Governo de Baku ter anunciado a intenção de “reintegrar” o território, as autoridades do enclave separatista, também conhecido como Artsakh, assumiram querer retirar uma população estimada em mais de 120 mil pessoas para a Arménia.
Compatriotas bem-vindos
O Governo Arménio já assegurou, entretanto, estar preparado para receber os 120 mil compatriotas de etnia arménia. Os primeiros refugiados vieram da região próxima de Susha, onde cidades e aldeias foram cercadas quando as forças do Azerbaijão avançaram, na semana passada, com a ofensiva. “Se não forem criadas condições de vida reais para os arménios de Nagorno-Karabakh nas suas casas, e mecanismos eficazes de protecção contra a limpeza étnica, então aumenta a probabilidade de os arménios de Nagorno-Karabakh verem a expulsão da sua terra natal como a única saída”, disse ontem o primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinyan.
Pashinyan criticou ainda o bloco de segurança dominado pela Federação Russa, do qual a Arménia é membro, dizendo que a Organização do Tratado de Segurança Coletiva foi ineficaz na prevenção de mais violência.
Para muitos arménios, a região montanhosa de Nagorno-Karabakh é a sua pátria ancestral, sendo internacionalmente reconhecida como território do Azerbaijão. O enclave é governado por um Executivo arménio local desde o início da década de 1990, após anos de guerra. Um Governo agora perto do colapso, após o cessar-fogo com o Azerbaijão.