A maioria parlamentar que apoia, na Assembleia Nacional (câmara baixa), o presidente francês, Emmanuel Macron, manteve, nesta segunda-feira, o suporte ao Governo, ao derrotar as duas moções de censura, e legitimou o recurso à norma constitucional que permitiu aprovar a polémica lei da reforma da segurança social sem ser votada.
Corpo do artigo
Em Paris e em outras cidades, as reações não se fizeram esperar, com novas concentrações e confrontos entre a Polícia e manifestantes.
Eram quase 19 horas em Paris (18 em Portugal ) quando o plenário concluiu a votação da moção do centrista Liberdades, Independentes, Ultramar e Territórios (LIOT, no acrónimo em Francês) e de quatro bancadas de Esquerda, com 278 votos a favor dos 287 que eram necessários. Pouco tempo depois, o texto proposto pela União Nacional (RN, ex-Frente Nacional), de extrema-direita, recolhia apenas 94 apoios.
Pedido de referendo
Os Republicanos (LR), embora um pouco divididos (19 dos seus 61 deputados apoiaram a moção de centro- esquerda) ajudaram os dois partidos macronistas - o Renascença (ex-A República em Marcha, de Macron) e o MoDem, pelo que a lei que passa a idade da reforma para os 64 anos, entre outras alterações, avança.
No entanto, entrou no Conselho de Estado uma iniciativa partilhada para um referendo ao diploma, que tem o apoio de pelo menos 250 deputados, uma ideia invocada várias vezes nos discursos. "Retirai esta reforma ou submetei-a ao sufrágio dos franceses", desafiou Boris Vallaud, do Partido Socialista.
A primeira-ministra, Élisabeth Borne, manteve a afirmação da legalidade da reforma, declarando embora ter "consciência do esforço que ela representa para um bom número de compatriotas".
Mantidos à distância da Assembleia Nacional e do Palácio do Eliseu por um forte dispositivo da Polícia, os manifestantes em Paris tentaram concentrar-se na Praça Vauban, fortemente vigiados pela unidade especial Companhias Republicanas de Segurança (CRS), que acabaram por empurrá-los para zonas adjacentes.
Ao início da noite, havia concentrações e confrontos por toda a França, especialmente em cidades como Estrasburgo e Paris. Na capital, estavam levantadas barricadas e ardiam lixeiras, registando-se confrontos, nomeadamente nas zonas de Gare de Saint-Lazare, na Praça da Ópera, em Montmartre, em Châtelet e nas Halles.
Conhecidas as votações, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) avisou, em comunicado, que "nada enfraquece a determinação dos trabalhadores" e apelou à "ampliação das mobilizações" nas greves e, sobretudo, na manifestação desta quinta-feira.
O líder do partido A França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, pediu a "censura popular em todas as frentes e em todas as circunstâncias".
"Denegação da democracia"
O deputado fora um dos alvos da maioria no debate, iniciado com virulência pelo deputado Charles de Courson (LIOT), que considerou o recurso ao famoso artigo 49.3 "uma denegação da democracia".
A presidente do grupo do Renascença, Aurore Bergé, acusou as forças do centro e Esquerda de estarem a mostrar "a incapacidade para encontrar uma alternativa credível (à lei em discussão) e desbloquear outra maioria".
Ciente de que perderia, a sua colega da França Insubmissa, Mathilde Panot, acusou o Governo de "miséria moral e política", notando às bancadas macronistas: "Pouco importa o resultado das moções; vocês já perderam".
Em resposta, o chefe dos republicanos, Olivier Marleix, declarou que estes não se deixam "arrastar por forças de extrema-esquerda que pretendem destruir as instituições da ´V República", ao que Pierre Dharréville, da Esquerda Republicana e Democrata (GRD), contrapunha a ideia de que a oposição expressava a "cólera profunda" dos franceses.