Com muitas cidades e zonas industriais ainda a ferro e fogo, transportes, abastecimentos de energia e recolha de lixo afetados por greves e em plenos preparativos para a nona "grande mobilização" contra a lei da segurança social convocada para amanhã, o presidente francês lançou hoje mais achas para a fogueira da contestação, ao defender as mudanças e ao chamar "sediciosos" a alguns manifestantes e ao compará-los aos extremistas que tomaram o Capitólio dos Estados Unidos (2021) e as sedes dos três poderes no Brasil, em janeiro.
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As declarações de Emmanuel Macron, entrevistado nos canais de televisão TF1 e France 2, são uma expressão, segundo o secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Philippe Martinez, de "desprezo pelos milhões de manifestantes" que contestam a passagem da reforma para os 64 anos. O presidente "juntou mais lenha a uma fogueira já muito acesa", avisou o líder do Partido Socialista, Olivier Faure.
Hoje, prosseguiam greves e manifestações, bloqueio de estações ferroviárias, refinarias, reservatórios de combustíveis, docas de pesca e comerciais e a paralisação de três centrais de incineração de resíduos urbanos que está a atulhar Paris de lixo, ameaçando a imagem da cidade na visita do rei Carlos III de Inglaterra, na próxima semana.
"Prisões arbitrárias"
Repetiram-se confrontos na capital e em cidades como Grenoble, Rennes, Lille e Nantes. Há largas centenas de detidos desde quinta-feira - e várias dezenas, ou talvez centena e meia, conforme as fontes, só hoje -, embora a maioria acabe libertada sem acusação. Mas a Amnistia Internacional alertou para "o uso excessivo e generalizado da força" e para "prisões arbitrárias".
Foi neste contexto que Macron elogiou a polémica reforma das pensões, que também aumenta para 43 o número de anos de descontos, que deve entrar em vigor até ao fim do ano. "Esta reforma é necessária. Não me faz feliz e teria preferido não a fazer", disse, reconhecendo a "impopularidade" da medida.
"Entre eleições conjunturais e o interesse geral do país, escolho o interesse geral do país", acrescentou. Macron "não compreende a desconfiança que atravessa a França que trabalha", comentou Fabien Di Filippo, um dos 19 deputados republicanos que, na segunda-feira, furou a disciplina partidária e apoiou a moção interpartidária de censura ao Governo (rejeitada por apenas nove votos).
As manifestações "devem ser respeitadas quando são pacíficas, mas não quando recorrem à violência extrema", comentou o presidente, ao mesmo tempo que rejeitava a ideia de dissolver a Assembleia Nacional, de reformular o Governo ou submeter a reforma a referendo. Apenas espera o parecer do Conselho Nacional, afiançou. Mas naquele órgão já entrou um pedido de 250 eleitos da oposição no Senado e na Assembleia Nacional, justamente para a realização de um referendo.