Biden deixa Pequim fora do encontro, elevando apreensão entre países. Iniciativa está a ser alvo de críticas.
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Defender a democracia, combater a corrupção e preservar os direitos humanos foram algumas das bandeiras que o presidente dos EUA, Joe Biden, levantou durante a campanha eleitoral. Agora, concretiza as promessas numa cimeira internacional que pretende fazer frente às ambições expansionistas dos países autocráticos, em particular a China. A Cimeira da Democracia, que decore a partir de Washington, reúne chefes de Estado e de Governo de 110 países.
Mas os críticos do encontro questionam os critérios em que se basearam os convites aos países. "O critério é a lógica dos interesses. Se começarmos a procurar racionalidade para justificar a escolha dos Estados vamos ter dificuldade em compreender, porque encontramos países que não fazem sentido estar na lista", refere Jorge Tavares da Silva, professor de Relações Internacionais na Universidade do Minho (UM), explicando que é preciso "interpretar este fenómeno à luz do jogo de interesses".
A visão é partilhada pelo colunista Anthony Faiola, num artigo do jornal "The Washington Post", no qual escreve que "a Casa Branca convidou países com históricos democráticos muito piores" do que aqueles que ficaram de fora.
Os EUA não quiseram contar com a participação de alguns dos seus principais rivais, em particular a China e a Rússia, o que pode ser explicado pelo facto do país estar a tentar arranjar "meios diplomáticos para enfraquecer a posição de Pequim no mundo", destaca o docente da UM, alertando para o facto desta ausência aumentar a tensão entre as duas nações. "Há uma retórica cada vez mais hostil", alerta Tavares da Silva. Porém, destaca o docente, neste campo Biden está protegido "porque tem a opinião pública do lado dele".
Para agudizar ainda mais a tensão com a China, o presidente convidou Taiwan, ilha autónoma que os EUA não reconhecem como um país independente, mas que encaram como um modelo democrático face à China.
Hungria de fora
O facto de a Polónia ter sido convidada, ao contrário da Hungria, mereceu também críticas de vários analistas. Ambos os países têm sido alvo de retaliações por parte da União Europeia devido a condutas consideradas pouco democráticas, mas apenas Budapeste foi afastada. "Pode ter a ver com as medidas que o regime tem tomado, sobretudo no que diz respeito a algumas políticas mais hostis", explica o docente.
Os objetivos do encontro são outra fragilidade apontada, sobretudo porque a cimeira ocorre virtualmente. "É mais fogo de vista", remata o investigador.
Outros assuntos
China responde
Pequim divulgou um comunicado, no qual salienta que a democracia é um valor comum da humanidade e um ideal que sempre foi respeitado pelo Partido Comunista da China e pelo povo chinês, tentando desvalorizar o impacto da cimeira no país.
CPLP marca presença
Angola, Brasil, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste foram convidados para a Cimeira da Democracia. Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Moçambique não estão presentes.
Diplomacia
Além de reunir chefes de Estado e de Governo, a cimeira também conta com representantes do setor privado e de organizações civis.