Brasileiros a viver em Braga preferem não expor orientações políticas para evitar problemas na vida pessoal e profissional.
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"É uma guerra entre quem vai votar no Lula ou no Bolsonaro", observa Joseneilde Assunção, que reside em Portugal há dez meses. Aos 53 anos, atravessou o Atlântico sozinha e, apesar de se sentir segura em Braga, teme admitir a opção de voto. "Prefiro resguardar-me de polémicas com família e amigos. Dizer em quem vou votar pode fazer com que me virem as costas", lamenta.
Leonardo Bellfort, por sua vez, recorda o dia em que decidiu fazer as malas e deixar Espírito Santo - que descreve como uma "cidade violenta". Aos 27 anos, "vim só eu e Deus", conta, detalhando que começou por trabalhar no Algarve, mas um ano depois decidiu rumar até à capital minhota. "Apaixonei-me por Braga", revela, enquanto veste orgulhosamente a farda do histórico Café Vianna, onde se sente "em casa".
É no estabelecimento onde trabalha como empregado de mesa que Leonardo é frequentemente confrontado com a realidade das eleições. "Atendo muitos brasileiros e a primeira pergunta que me fazem é em quem eu vou votar. Prefiro não responder. Falar de política é uma guerra e pode ter repercussões no meu trabalho", refere.
Em Braga desde 2016, Alexandra Gomide, presidente da Associação União, Apoio e Integração, diz que a maioria dos conterrâneos "têm receio de ser cancelados socialmente pelas opções políticas", sublinhando que os "rótulos" associados a cada candidato podem ser motivo de exclusão.
A autora do canal de YouTube "Olhar brasileiro em Portugal" perceciona a cidade minhota como um porto seguro, mas prefere não comentar as crenças políticas por receio "de que fiquem diretamente ligadas" à associação que representa. O marido, Rui Generoso, também opta por se resguardar, mas faz uma boa avaliação da liderança de Bolsonaro. "A taxa de criminalidade baixou muito", salienta.
"Medo de quê?"
Entre uma comunidade ensombrada pelo receio de expressar convicções, Sylvio Peixoto, motorista de TVDE, destaca-se. "Eu voto no Bolsonaro. Se todo a gente tem direito a dar a opinião, eu não tenho? Medo de quê?", respondeu, quando questionado sobre em quem iria votar.
O luso-brasileiro de 48 anos acredita na reeleição do líder, mesmo numa altura em que as projeções antecipam uma vitória de Lula da Silva na primeira volta. "Isso é muito relativo. As sondagens no Brasil são compradas", constata.
Estima-se que no concelho de Braga vivam cerca de 15 mil brasileiros que, apesar das opiniões divergentes, têm um ponto em comum: não pretendem abdicar da bolha de segurança na qual se inserem.