O Conselho de Segurança da ONU, dividido sobre o conflito israelo-palestiniano, adiou para terça-feira a votação de uma nova resolução que visa um cessar-fogo na Faixa de Gaza, segundo fontes diplomáticas citadas pela agência France-Presse.
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As mesmas fontes adiantaram que os Emirados Árabes Unidos, na origem do novo texto, solicitaram o adiamento da votação, que estava agendada para hoje as 17 horas locais (22 horas em Portugal continental), para permitir a continuação de negociações, devendo ser remarcada para terça-feira.
Em 8 de dezembro, no seguimento de um pedido inédito do secretário-geral da ONU, António Guterres, de uma reunião do Conselho de Segurança, os Estados Unidos vetaram a adoção de uma resolução apelando para um "cessar-fogo humanitário imediato" na Faixa de Gaza, onde o exército israelita continua a sua ofensiva intensiva, em retaliação ao ataque sangrento sem precedentes do grupo islamita palestiniano Hamas.
Na semana passada, a Assembleia-Geral da ONU aprovou esta mesma resolução, mas de forma não vinculativa, por 153 votos a favor, 10 contra e 23 abstenções, num total de 193 estados-membros.
Com este apoio esmagador, os países árabes anunciaram uma nova tentativa no Conselho de Segurança, mas o resultado é incerto.
Um projeto de texto preparado pelos Emirados Árabes Unidos, obtido pela France-Presse no domingo, apela para "uma cessação urgente e duradoura das hostilidades para permitir o acesso desimpedido da ajuda humanitária à Faixa de Gaza".
Mas, segundo fontes diplomáticas, um novo texto modificado será redigido ainda esta segunda-feira.
O projeto de domingo apelava especificamente às partes em conflito para facilitarem a entrada e distribuição de ajuda humanitária em toda a Faixa de Gaza, "por terra, mar e ar".
Tal como a resolução adotada pela Assembleia-Geral, o texto não nomeia o Hamas, uma ausência sistematicamente criticada pelos Estados Unidos e por Israel.
Por outro lado, condena "todos os ataques indiscriminados contra civis" e "todos os atos de terrorismo", apelando para a libertação dos reféns detidos pelo Hamas desde 7 de outubro.
Desde o início da guerra entre Israel e o movimento palestiniano, o Conselho de Segurança tem estado sob críticas pela sua inconsequência, tendo apenas conseguido adotar um texto apelando para "pausas humanitárias" em meados de novembro.
Cinco outros projetos de resolução foram rejeitados, incluindo dois devido a vetos dos Estados Unidos.
Desde então, o presidente norte-americano, Joe Biden, disse que Israel corre o risco de perder o apoio da comunidade internacional devido aos bombardeamentos indiscriminados da Faixa de Gaza.
Questionado sobre a possibilidade de uma abstenção norte-americana no Conselho de Segurança, para permitir a adoção do texto, o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, disse hoje que não queria especular, atendendo a que se estava "no meio do processo de negociação".
As resoluções do Conselho de Segurança são vinculativas, mas frequentemente ignoradas pelos países envolvidos.
Após um ataque sem precedentes do Hamas que causou 1200 mortes e cerca de 240 sequestros em território israelita em 7 de outubro, o Exército de Telavive conduziu uma poderosa ofensiva aérea, terrestre e marítima na Faixa de Gaza.
A operação militar já deixou mais de 19 mil mortos e acima de 51 mil feridos, a maioria dos quais mulheres, crianças e idosos, segundo números das autoridades locais, controladas pelo grupo islamita palestiniano, bem como 1,9 milhões de deslocados, 85% da população total do enclave, de acordo com a ONU.