O principal jornal estatal norte-coreano "Rodong Sinmun" escreve que depender de ajuda externa para lidar com a escassez de alimentos seria o mesmo que aceitar "doces envenenados" numa altura de crise nacional e de aumento de mortes por fome.
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Num editorial publicado esta quarta-feira, o "Rodong Sinmun" pediu autossuficiência económica e alertou contra a receção de ajuda económica de "imperialistas", que usariam a ajuda como uma "armadilha para saquear e subjugar" os países beneficiários e interferir nas suas políticas internas. "É um erro tentar impulsionar a economia ao aceitar e comer esse doce envenenado", lê-se.
Mais mortes por fome
De acordo com a agência Reuters, a Coreia do Norte tem enfrentado uma escassez de alimentos nos últimos anos, provocada por desastres naturais, sanções internacionais destinadas a conter os seus programas nuclear e de mísseis e um corte acentuado no comércio com a China devido ao encerramento de fronteiras e confinamentos por causa da pandemia de covid-19. A maioria das agências da ONU e grupos de ajuda ocidentais deixaram a Coreia do Norte. A China permanece uma das poucas fontes de ajuda alimentar externa.
Na terça-feira, o Ministério da Unificação da Coreia do Sul, que lida com os assuntos intercoreanos, disse que parece ter havido um aumento recente de mortes por fome em algumas províncias norte-coreanas. "A produção de alimentos caiu em relação ao ano passado e existe a possibilidade de problemas de distribuição devido a uma mudança na política de abastecimento e distribuição de alimentos".
O ministro sul-coreano Kwon Young-se afirmou ainda que Pyongyang pediu à agência de alimentos da ONU, o Programa Alimentar Mundial, para fornecer apoio, mas não houve progresso devido a divergências sobre questões de monitorização.
40% da população desnutrida
Em dezembro, a agência de desenvolvimento rural da Coreia do Sul estimou que a produção agrícola da Coreia do Norte tinha caído 3,8% em relação a 2021. A disponibilidade de alimentos está no seu pior nível desde a fome na Coreia do Norte na década de 1990. Estima-se que centenas de milhares de pessoas morreram nesse período.
Em 2022, o Programa Alimentar Mundial estimou que 10,7 milhões de pessoas - mais de 40% da população da Coreia do Norte - estavam desnutridas e precisavam de assistência humanitária. Esse número já deve ter aumentado devido a desastres relacionados com o clima, como secas , inundações, tufões e ondas de calor.