O Partido Popular espanhol está envolvido numa guerra interna com dois grupos opostos, onde a corrupção, a traição e a família estão na ordem do dia. O hegemónico partido da direita espanhola durante a democracia vive uma crise inédita desde a sua fundação, que pode mudar por completo a cúpula do partido. O líder popular, Pablo Casado, acusa a presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Diaz Ayuso, de corrupção enquanto a destacada líder da comunidade madrilenha se defende por ter sido vítima de espionagem ilegal.
Corpo do artigo
As informações publicadas na quinta-feira por vários meios de comunicação espanhóis foram o espoletar de um confronto sem precedentes. O Partido Popular foi acusado de ter tentado contratar uma agência de detetives, através da Câmara Municipal de Madrid, para investigar de forma ilegal se a presidente da região, Isabel Díaz Ayuso, favoreceu o seu irmão com contratos públicos. Em causa, a compra de 250 mil máscaras FFP2 por 1,5 milhões de euros no início da pandemia, quando conseguir comprar material sanitário para os hospitais de campanha improvisados parecia uma utopia.
O irmão da presidente, Tomás Díaz Ayuso, comercial na área de saúde, intermediou o negócio com a empresa Priviet Sportive, cobrando entre 55 mil e 286 mil euros por agilizar uma operação que não precisou do habitual concurso público, por tratar-se de uma situação de emergência. O proprietário da companhia, Daniel Alcázar, é também um antigo amigo da família Díaz Ayuso. O objetivo da contratação dos detetives era conseguir um recibo da conta bancária de Tomás Ayuso, para demonstrar que havia recebido uma comissão por um negócio público.
A ameaça de Ayuso
A troca de acusações entre os dois grupos não demorou a chegar. A presidente madrilena defendeu-se, acusando Casado de agir de forma cruel e injusta. "Não desmente as acusações porque vêm dos seus próximos", explicou Ayuso, antes de sublinhar que terá sido a sua candidatura à liderança do PP de Madrid o principal incentivo dos ataques da direção do seu próprio partido. Casado sempre se mostrou incomodado com esta situação, por a considerar uma ameaça à sua direção no PP.
-wOb47wSLKI
Minutos mais tarde, o secretário-geral do PP, Teodoro García Egea, deu uma conferência de imprensa para desmentir a espionagem por parte do partido e anunciou uma abertura de um processo disciplinar contra Ayuso, pelas suas declarações e por nunca ter fornecido mais dados sobre as supostas comissões do irmão, apesar de ter conhecimento no assunto desde o passado verão.
dd5Fr40bI1E
Entretanto, Ángel Carromero, que supostamente tinha liderado a contratação da agência de detetives, apresentou a sua demissão como coordenador geral da Câmara Municipal de Madrid, para não "pôr em risco o partido", admitindo de forma indireta as acusações de espionagem.
Casado rompe silêncio
Com o tom da troca de acusações a subir, Casado decidiu, na sexta-feira, romper o silêncio numa entrevista na Cadena Cope, acusando Ayuso de tráfico de influências. "A questão é se pode ser compreensível que, quando em Espanha estavam a morrer 700 pessoas por dia, se pode contratar o irmão e receber 286 mil euros de comissão por vender máscaras".
Nesse mesmo dia, Casado e Ayuso mantiveram uma reunião na sede do partido, para tentar assinar uma trégua definitiva que nunca chegou. Casado arrependeu-se das suas palavras e ofereceu um acordo político, encerrando o processo disciplinar, depois de Ayuso ter apresentado documentação na qual reconhecia que o seu irmão tinha ganho dinheiro com a compra das máscaras de forma legal. Porém, a estratégia de Casado não foi bem aceite por Ayuso, que recusou a proposta de Casado de anunciar publicamente que não havia sido investigada pelo PP.
crabnEDbIf0
Revolta com sabor galego
Entretanto, os barões do Partido Popular iniciaram uma revolta exigindo mudanças imediatas na liderança do partido. O presidente da Galiza, Alberto Nuñéz Feijoo, alertou Casado de que senão fosse capaz de solucionar a crise convocara um Congresso extraordinário, apesar de o ordinário estar marcado para julho. O líder galego conta com o apoio de outros líderes regionais que o secundam como a única solução aos problemas do partido, mas Feijoo ainda não deu o passo definitivo à política nacional, apesar de já ter sido coroado na sua terra com quatro maiorias absolutas, impedindo o avanço da extrema-direita.
watch?v=LlHLaYPjPA4
Madrid pede demissão de Casado e Egea
A grande maioria dos barões pedem a cabeça de García Egea, braço direito de Casado, para evitar um maior agravamento da crise, que promete acabar com a atual cúpula do partido. Segundo o diário "El Mundo", o secretário-geral do PP foi o responsável por iniciar a espionagem contra Ayuso.
Esta onda contra a atual liderança do partido passou, este domingo, para as ruas de Madrid onde milhares de apoiantes de Ayuso se manifestaram a pedir a demissão de Egea e Pablo Casado.
1495360864836325377
A extrema-direita à espreita
Quem aguarda as consequências definitivas da guerra interna é a extrema-direita, que pode sair beneficiada sem estar na origem do conflito. As sondagens publicadas este domingo pelo diário "El Español" indicam que, pela primeira vez, Vox superaria em intenção de voto ao Partido Popular, alcançando os 78 assentos no Congresso dos Deputados, se as eleições, programadas para 2023, fossem hoje.