Crise entre EUA e Venezuela oscila entre escalada militar e possíveis negociações

Os Estados Unidos enviaram o USS Gerald Ford para a Venezuela
Foto: Triniti Lersch / DoD / AFP
A tensão entre Washington e Caracas atingiu um novo patamar com a chegada do maior porta-aviões do mundo ao mar das Caraíbas, a oscilar entre possíveis negociações ou uma escalada militar.
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Os Estados Unidos enviaram o USS Gerald Ford, numa operação que Washington afirmou ter como objetivo combater o tráfico de droga.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, insistiu que Washington quer derrubá-lo e as reservas de petróleo do país, as maiores do planeta.
Maduro viu mesmo os Estados Unidos colocarem a sua cabeça a prémio, no valor de 50 milhões de dólares (cerca de 43 milhões de euros), em 8 de outubro, quando foi acusado de ser narcotraficante.
O homólogo norte-americano, Donald Trump, que já autorizou operações clandestinas da agência de informações dos EUA (CIA) em território venezuelano, afirmou que o Governo de Maduro ia chegar ao fim, embora não tenha abordado de forma clara uma possível mudança de regime na Venezuela.
Na segunda-feira, Trump disse que "em algum momento" vai falar com Maduro, que respondeu esperar que seja "cara a cara".
Pressão por via militar
Os EUA têm o porta-aviões Gerald Ford e escolta, bem como seis outros navios de guerra, caças e milhares de soldados nas Caraíbas e no Pacífico.
As forças norte-americanas já mataram 83 pessoas em cerca de 20 incursões contra alegados barcos que traficavam droga da Venezuela e da Colômbia.
A possibilidade de um ataque em solo venezuelano parecia iminente quando o chefe da diplomacia norte-americana, Marco Rubio, anunciou no domingo que Washington planeava declarar o cartel de Los Soles como uma organização terrorista, dando apoio legal a uma possível ação militar.
Washington acusou Maduro de estar à frente desta organização e a Venezuela de ser um "narcoestado", que os especialistas duvidam existir sob esta forma, qualificando o Governo venezuelano antes como um sistema de corrupção que beneficia do crime organizado.
No entanto, Donald Trump aliviou um pouco a tensão ao falar de possíveis negociações, ao mesmo tempo que deixou claro que a opção militar continua em cima da mesa.
"Trump está cético quanto a autorizar uma operação militar", afirmou o analista político Mariano de Alba, acreditando que o anúncio de Rubio é um "mecanismo de pressão adicional para tentar convencer o regime de Maduro a abandonar o poder".
Estratégia semelhante à usada com a Coreia do Norte
Francisco Gonzalez, especialista em integração regional, considerou que Trump está a empregar uma estratégia já usada durante a crise nuclear com a Coreia do Norte em 2017, durante o primeiro mandato do republicano.
"Ele [Trump] está a tentar extremar, ir até ao limite e depois negociar com base nesse limite", disse Gonzalez, que também apontou para uma "dualidade narrativa" em Washington entre os defensores de uma linha pragmática, prontos a negociar, e os de uma ala mais bélica como Rubio.
A líder da oposição e vencedora do Prémio Nobel da Paz Maria Corina Machado, que acusou Maduro de ter manipulado as eleições de julho de 2024, defende uma linha dura.
Washington e grande parte da comunidade internacional também não reconheceram a vitória.
Um general venezuelano reformado afirmou à agência de notícias France-Presse, sob condição de anonimato, que Trump está a tentar negociar os termos da saída de Maduro, para determinar se o líder venezuelano "deixará o Governo e se colocará à disposição das autoridades, ou se deixará a Venezuela para pedir asilo noutro país".
Outros analistas disseram acreditar que o presidente norte-americano poderá optar por concessões petrolíferas ou mineiras em troca da saída de Maduro.
Renunciar não é uma opção
Para que Nicolás Maduro considere a possibilidade de abandonar o poder, "tem de haver um setor do seu próprio regime que lhe diga que não há outra alternativa", afirmou Alba.
No caso de negociações abertas, Maduro "não vai oferecer a saída como uma opção", acrescentou.
O presidente venezuelano apelou ao alistamento militar e ordena frequentemente exercícios militares, empregando termos ideológicos como "independência", "imperialismo", "liberdade" e "neocolonialismo".
Embora a Venezuela esteja consciente de que não tem capacidade para se opor militarmente à primeira potência mundial, prometeu defender a pátria.
O destacamento norte-americano não afetou os envios de petróleo da Chevron para os Estados Unidos, nem os voos para Caracas com imigrantes ilegais venezuelanos.
Maduro tem variado o tom, oscilando entre apelos à resistência, referências ao herói independentista Simon Bolívar e apelos à paz, em espanhol ou inglês.
