O Congresso de Deputados espanhol rejeitou, a 7 de outubro, uma Iniciativa legislativa de Cidadãos (ILC) para retirar a proteção cultural nacional às touradas. Com quase 665 mil assinaturas, embora tenha sido vetada no Parlamento, a polémica sobre as touradas continua viva nas ruas do país.
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A tourada é protegida, a nível nacional, por uma lei de 2013, promulgada por um governo conservador liderado pelo Partido Popular (PP), que pretendia proteger a atividade como "parte do património cultural digno de proteção em todo o território nacional".
A ILC recentemente rejeitada pretendia revogar a legislação, acabando com o abuso de animais e devolvendo o poder de decisão aos governos regionais. A ideia era que cada autoridade regional pudesse decidir se proibia ou mantinha as touradas.
Os legisladores optaram por rejeitar a proposta, impedindo o debate parlamentar, numa votação marcada pela abstenção do Partido Socialista (PSOE). Segundo a opinião popular, os deputados fizeram "ouvidos moucos" a mais de meio milhão de pessoas.
A decisão alegrou a direita política e a indústria das touradas, que saíram fortalecidas. "Passámos de ser banidos pela maioria para avançar com ainda mais entusiasmo", disse, ao jornal "El País", Sabino Gutiérrez Bañares, ex-presidente do maior clube taurino de Espanha, o Cocherito. "Quem são eles para decidir o que é cultura e o que não é? Os ativistas dos direitos dos animais querem cancelar tudo o que não gostam", acrescentou Antonio Bañuelos, presidente da Real União de Criadores de Touros de Tourada.
O alívio contrasta com a indignação da comissão que avançou com a ILC e que viu "meses de esforço ignorados". O grupo declarou "traição" por parte dos socialistas e Pedro Sánchez, presidente do Governo espanhol, foi forçado a pronunciar-se. O líder político reconheceu, na semana passada, durante uma entrevista, que as touradas "não são uma questão resolvida dentro do Partido Socialista. Há ativistas que são a favor e outros que são contra, tal como na sociedade espanhola".
A declaração reforça o cariz complexo da questão. Onde uns veem crueldade, vergonha e subsídios exagerados, outros veem identidade, orgulho e resistência.
No domingo, 12 de outubro, alguns dias após o fracasso da ILC no Congresso, o toureiro José Antonio Morante de la Puebla dedicou a sua aposentadoria a Santiago Abascal, líder do partido extremista Vox: "Obrigada por tudo o que fazem por nós. Viva a Espanha!"
Com os movimentos dos animais a ganharem força, cerca de 77% da população espanhola rejeita as touradas, segundo dados revelados por um estudo da BBVA Foundation, sendo que esta é a iniciativa cultural com mais oposição no país.
