O congresso da Cidade do México votou a proibição das touradas tradicionais e a sua substituição por uma nova forma de espetáculo sem derramamento de sangue, no episódio mais recente de uma batalha legal de anos para proibir a prática na capital do México.
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A praça de touros da Cidade do México, a Plaza México, que tem 42 mil lugares e é a maior do Mundo, vai continuar a realizar touradas, mas sem violência. Enquanto uma tourada tradicional envolve uma série de lanças, arpões farpados e uma espada fina para o golpe mortal, estes novos eventos apenas permitirão aos matadores usar as capas com que puxam os touros para os atacar. Os cornos do touro também serão “protegidos” para evitar danos no matador ou noutros animais.
De acordo com o jornal britânico "The Guardian", as touradas sem derramamento de sangue serão limitadas a 15 minutos. Depois, os touros serão devolvidos aos seus donos e explorações. Agora, é proibido que morram dentro ou fora do recinto.
A medida, que foi aprovada por 61 votos a favor e um contra, gerou furiosos protestos dos adeptos das touradas e dos matadores, alguns dos quais tentaram furar uma barricada policial no Congresso local.
Opiniões divergentes
A mudança surgiu de uma iniciativa de cidadãos que inicialmente propunham uma proibição total, mas a chefe do governo da Cidade do México, Clara Brugada, modificou-a e introduziu o conceito de touradas não violentas, permitindo manter a atividade económica em torno das touradas, uma vez que o setor suporta dezenas de milhares de empregos.
“O espetáculo de sangue não pode ser justificado sob qualquer conceito de arte e tradição”, disse Brugada. “Alguns argumentarão que faz parte das tradições e da cultura, mas a cultura, a música e a arte, até mesmo os direitos, mudam, evoluem, transformam-se. Nós, grandes cidades, somos obrigadas a transformar-nos ao mesmo tempo. O bem-estar animal é um direito e um dever da sociedade”.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, também apoiou a iniciativa, considerando-a uma "boa solução" para manter os empregos na indústria taurina, ao mesmo tempo que respeita uma reforma constitucional que proíbe o abuso de animais.
Por sua vez, a indústria tauromáquica rejeitou a nova regulamentação e disse que não foi consultada sobre a mesma. Em conferência de imprensa, Salvador Arias, advogado da Tauromaquia Mexicana, uma organização que defende as touradas, disse que a proposta de Brugada para as touradas sem sangue se assemelhava a uma que foi tentada nas ilhas Baleares, onde teve pouco interesse e acabou por ser rejeitada por um tribunal espanhol.
As opiniões são divergentes mesmo entre as organizações contra as touradas segundo a AFP. “Os touros já não serão submetidos à crueldade brutal de serem esfaqueados repetidamente e, finalmente, mortos na arena, o que é algo que acolhemos com satisfação”, disse Anton Aguilar, diretor executivo da Humane World for Animals Mexico, acrescentando que “um evento com touros sem violência não significa um evento sem sofrimento”.
Por sua vez, a organização Culture Without Torture lamentou que a proibição não tenha sido total e afirmou duvidar "que os eventos propostos se realizem, uma vez que o que os adeptos das touradas querem verdadeiramente ver é sangue”.
Portugal entre os países que ainda realiza touradas
As touradas são consideradas uma tradição e um passatempo há muito tempo nos países da América Latina, mas são criticadas pela crueldade contra os animais, uma vez que os touros são geralmente mortos no final do evento. Segundo os grupos de defesa dos direitos dos animais, aproximadamente 180 mil touros são mortos todos os anos em touradas em todo o Mundo, de acordo com a "Associated Press".
Vários dos 32 estados do México proibiram as touradas, que foram introduzidas pelos conquistadores espanhóis há séculos.
Por outro lado, a Associação Nacional de Criadores de Touros de Luta do México afirma que as touradas geram 80 mil empregos diretos e 146 mil empregos indiretos em todo o país. No geral, o setor gera aproximadamente 400 milhões de dólares (equivalente a 369 milhões de euros) por ano.
Noutros países, Equador, Espanha, França, México, Peru, Portugal e Venezuela ainda se realizam eventos de touradas. No ano passado, a Colômbia aprovou a proibição das touradas a partir de 2027, enquanto a matança de animais foi proibida na capital equatoriana, Quito.