As autoridades chilenas cometeram "graves violações dos direitos humanos", que incluem uso excessivo da força, abusos nas detenções e uso indiscriminado e indevido de armas de ar comprimido para conter os protestos sociais.
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Estas conclusões podem ser encontradas num relatório divulgado, esta terça-feira, na capital do Chile pela Human Rights Watch (HRW), após observar a escalada da violência dos protestos sociais que duram há 40 dias e causaram pelo menos 23 mortes.
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"Fatores como o uso indiscriminado e impróprio de armas e de armas de ar comprimido, os abusos contra pessoas detidas enquanto estavam à disposição das autoridades e os sistemas de controlo internos deficientes facilitaram graves violações dos direitos de muitos chilenos", sublinhou José Miguel Vivanco, diretor daquela organização não-governamental para as Américas.
A Human Rights Watch entrevistou mais de 70 pessoas durante duas semanas de investigação em Santiago e Valparaíso em novembro, incluindo vítimas, agentes policiais e autoridades.
A organização afirmou ter reunido "evidências consistentes" de que os Carabineiros (polícia chilena que integra as forças de ordem e segurança) "usaram a força de maneira excessiva em resposta aos protestos e feriram milhares de pessoas, independentemente da sua participação em atos violentos ou não".
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Segundo o relatório, algumas vítimas foram feridas por balas disparadas por armas de ar comprimido ou pelo impacto direto de cartuchos de gás lacrimogéneo, enquanto outras denunciaram ter sofrido abusos policiais nas ruas ou nas esquadras policiais.
A HRW afirma ainda que os abusos e os ferimentos graves sofridos por centenas de manifestantes ocorreram em grande parte "devido a falhas estruturais para assegurar uma supervisão e responsabilização adequadas pelas atuações dos carabineiros", pelo que foi pedido ao Governo que implementasse uma reforma policial urgente.
Enquanto já foram contabilizadas 23 mortes desde o início dos protestos em 18 de outubro, a organização disse no relatório que o Ministério Público está a investigar 26 mortes.
Entre esses casos, estão três pessoas mortas a tiro por armas de fogo durante o estado de emergência de nove dias, um manifestante que morreu após ser espancado pelas forças policiais na rua e uma pessoa atropelada por um veículo do Corpo de Fuzileiros Navais.
A investigação da morte de dois homens sob custódia policial, oficialmente declarada como suicídio, e o caso de "um manifestante com uma doença cardíaca que morreu por não poder receber atendimento de emergência adequado, pois alguns polícias usavam armas contra manifestantes e profissionais de saúde que o atendiam" foram também mencionados pelo relatório.
No entanto, o relatório refere ainda que, embora a maioria dos manifestantes tenha agido pacificamente, "alguns grupos cometeram graves atos de violência, como ataques a carabineiros e a delegações com pedras e bombas 'molotov', assaltos e queima de propriedades públicas e privadas", ferindo pelo menos 1.896 polícias, 127 deles com ferimentos graves.