A eurodeputada portuguesa Ana Gomes defendeu que a tensão política do último ano em Timor-Leste levou a uma "destruição da riqueza", pondo em risco a vida da população e a imagem internacional do país.
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"No último ano assistimos a uma destruição da riqueza nacional, a uma profunda queda do PIB [Produto Interno Bruto]. E não por má governação, mas por falta de governação, porque o processo democrático esteve cheio de bloqueios", afirmou a socialista, numa conferência sobre democracia em Díli.
Quando isto acontece tem que ser sinal de alarme para todos
Ana Gomes considerou que o impacto desta situação pode afetar a imagem externa de Timor-Leste e condicionar futuros apoios ao país.
"Quando isto acontece tem que ser sinal de alarme para todos (...) Timor-Leste teve até hoje forte apoio europeu por ser exemplar em vários aspetos. Mas, se de repente Timor-Leste não é mais exemplar, não se admirem que isso tenha consequências na perspetiva do exterior", advertiu.
A eurodeputada recordou ser essencial viver a democracia, o que exige pluralismo, diversidade e diálogo entre as várias forças políticas e partidárias. "A democracia aprende-se construindo-a, vivendo-a, praticando-a no dia a dia", afirmou, num debate que decorre num momento de grande tensão política em Timor-Leste.
Tem que haver diálogo entre as forças partidárias
"Tem que haver diálogo entre as forças partidárias. Podem discordar, e isso é normal, mas também é normal que dialoguem, que formem consenso sobre o que é do interesse nacional, que estejam abertos a ouvir os outros", afirmou.
Para Ana Gomes, "a democracia implica que quem ganha, saiba ganhar e que quem perde, saiba perder", procurando consensos sobre o que é o interesse nacional, construindo instituições capazes de fazer verificações.
Esta conferência, organizada pelo Parlamento de Timor-Leste por ocasião do 21º. aniversário da Declaração Universal sobre a Democracia, conta ainda com a participação de especialistas timorenses e internacionais.
Educação política para a cidadania é essencial
O deputado indonésio Budiman Sudjatmiko deixou alertas para os riscos que a democracia enfrenta na atualidade, para a forma como "se pratica democracia".
"Não vos vou dizer o que é melhor para Timor. Porque a Indonésia já uma vez disse isso e não era o melhor para Timor", afirmou Sudjatmiko, considerando que em muitas áreas da democracia, Timor-Leste está hoje mais avançado que a Indonésia.
Apesar da ditadura de 32 anos de Suharto, presidente da Indonésia entre 1967 e 1998, ter sido derrubada há 20 anos, a sociedade continua a debater "o custo e significado desse período", saber quem foi "vítima e traidor", disse.
"Os timorenses estão um passo à nossa frente no reconhecimento dos custos humanos de repressão. A Indonésia está avançada no estabelecimento dos procedimentos e rituais democráticos, dando aos cidadãos os direitos de eleger" os líderes, acrescentou.
"Mas admitir o custo de violação de direitos humanos, estamos atrás de Timor-Leste. Violações não apenas cometidas pelo aparelho de Estado, mas também por alguns setores da população", afirmou.
O deputado alertou para os riscos e ameaças da democracia, e destacou a expensão das redes sociais e das manipulações políticas, um problema que exige maior atenção de todos, bem como a necessidade de avançar na educação política dos cidadãos.
"As pessoas mais simples são forçadas a pensar de forma complicada, a eleger representantes, do nível nacional ao local. A questão de educação política para a cidadania é essencial", disse. "Se não o fizermos, falhamos porque a democracia é complicada, inclusive pelos procedimentos", concluiu o deputado.