Deputado progressista surpreende e disputa segunda volta presidencial na Guatemala
O candidato progressista Bernardo Arévalo, filho do primeiro presidente eleito da Guatemala, Juan José Arévalo, é a surpresa das eleições presidenciais e gerais de domingo, posicionando-se em segundo lugar para a segunda-volta, a 20 de agosto, com a antiga primeira-dama, Sandra Torres.
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Bernardo Arévalo, 65 anos, deputado do Movimento Semente, que figurava em oitava posição, com menos de 3%, na última sondagem do diário “Prensa Libre”, conseguiu 11,8% menos 3,98 pontos percentuais do que a candidata mais votada, a empresária viúva do antigo presidente Álvaro Colom e fundadora do partido social-democrata Unidade Nacional Pela Esperança (UNE), Sandra Torres, 67 anos, que alcançou 15,78%, abaixo dos 21,3% que a sondagem prometiam, quando estavam escrutinadas 97,94% das mesas de voto.
No Parlamento, com 160 lugares, o Semente passa de sete para 24 deputados e o UNE, que era a maior bancada, desce de 51 para 27, cedendo o lugar (17 para 40) ao Vamos, do presidente cessante, o conservador Alejandro Giammattei.
Com um processo eleitoral marcado por uma intensa judicialização, com a exclusão de três candidaturas, como a de Carlos Pineda, do Prosperidade Cidadã (PC), que em maio liderava as sondagens, com 23%, a participação eleitoral foi de 59,99% dos mais de 9,3 milhões de eleitores, mas os votos nulos e brancos somaram quase um quarto dos boletins.
A percentagem de votos nulos – 17,39%, suplantando os resultados de Sandra Torres – explica-se muito pelo apelo dos partidos cujos candidatos foram excluídos (além do PC de Pineda, o Podemos, com Roberto Garzu, e o Movimento de Libertação dos Povos, com Thelma Cabrera). Na lei guatemalteca, se tivesse chegado aos 50% mais um, as eleições teriam de ser repetidas.
Os segundos e terceiros favoritos na sondagem do “Prensa Libre” eram Edmond Mulet, 72 anos, advogado e ex-diplomata, fundador do partido Cabal (ou “exacto”), com 13,4%, e a filha do ditador Efraín Ríos Mont, Zury Ríos, 55 anos, do Valor Unionista, de extrema-direita, com 9,1%. Alcançaram apenas 6,72 e 6,57%, respetivamente.
Quem é Bernardo Arévalo
Bernardo Arévalo nasceu em Montevideu, capital do Uruguai, onde a família se exilou após o golpe de Estado de 1954 dirigido pela CIA com o empenhamento de forças norte-americanas, na primeira experiência de intervenções militares e de operações de mudanças de regime pelos Estados Unidos.
O pai, Juan José Arévalo, era então embaixador itinerante da Guatemala, depois de ter sido o primeiro presidente eleito no país (1945-1951), com a consolidação da revolta popular e militar do outono de 1944, que pôs fim ao regime de 13 anos do caudilho Jorge Ubico e a décadas de ditadura, que perpetuava a pobreza da maioria com o grande latifúndio.
Tendo lançado as bases e as grandes medidas de desenvolvimento do país nos campos educativo, laboral e agrário, em 1951 Juan José Arévalo foi substituído na presidência por um dos seus companheiros da Revolução de Outubro de 44, o jovem coronel Jacobo Árbenz Guzmán, cujas medidas sociais e económicas, designadamente a reforma agrária, desagradavam aos Estados Unidos e aos seus interesses (só a United Fruit Campany possuía mais de metade das terras aráveis da Guatemala, embora apenas 3% estivessem cultivados…).
Bernardo Arévalo é sociólogo pela Universidade Hebraica de Jerusalém e doutor em Sociologia e Antropologia Social pela universidade neerlandesa de Utreque.
Depois de ter servido em vários postos no governo israelita, regressou à Guatemala em 1977, tendo trabalhado em vários projetos de reconstrução nacional.
Entre 1984 e 1988 foi primeiro secretário da embaixada guatemalteca em Israel, vindo a ser vice-ministro dos Negócios Estrangeiros (1994/95) e depois embaixador.
Líder do Movimento Semente desde 2019, apresenta como medidas prioritárias a erradicação pobreza, o impulso de uma educação de qualidade, a criação de emprego digno e um plano integrado contra a corrupção, a falta de acesso aos serviços básicos e a desigualdade económica.