Oito homens e duas mulheres devem comparecer no Tribunal de Paris pelas 13.30 horas desta segunda-feira sob acusação de ciberbullying contra a primeira-dama francesa. O julgamento, que deverá prosseguir na terça-feira à tarde e pode resultar numa pena de prisão até dois anos, envolve um professor, um publicitário, um técnico de informática e uma médium.
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Dez pessoas vão ser julgadas entre segunda e terça-feira pelo Tribunal de Paris por assédio cibernético sexista contra Brigitte Macron, a mulher do presidente francês. Em causa está a divulgação de notícias falsas, que se tornaram virais, alegando que a primeira-dama francesa é uma mulher transgénero.
Com idades entre os 41 e 60 anos, os suspeitos terão feito inúmeros comentários maliciosos sobre Brigitte Macron, em relação ao género e sexualidade, equiparando a diferença de idade de 24 anos que tem com o marido a "pedofilia" , segundo informou o Ministério Público de Paris.
A investigação de ciberbullying foi coordenada pela Brigada de Repressão ao Crime contra Pessoas (BRDP) após uma denúncia apresentada por Brigitte Macron a 27 de agosto de 2024, que resultou em várias detenções, principalmente em dezembro de 2024 e fevereiro de 2025.
Entre os réus está o publicitário Aurélien Poirson-Atlan, de 41 anos, conhecido nas redes sociais como "Zoé Sagan". A sua conta na rede social X, que está suspensa, foi alvo de várias denúncias e é frequentemente associada a círculos de teorias da conspiração.
Outra acusada é a médium, jornalista e "denunciante" Delphine J., de 51 anos, conhecida como "Amandine Roy", que divulgou o boato de que Brigitte Macron, cujo apelido de solteira era Trogneux, era na verdade o seu irmão Jean-Michel Trogneaux após a mudança de género. A sua advogada, Maud Marian, defende que Delphine apenas "reagiu às notícias" e que "nenhuma mensagem foi endereçada diretamente à senhora Macron".
A médium foi considerada culpada por difamação em 2024 e condenada pela justiça francesa a pagar milhares de euros por danos e prejuízos a Brigitte Macron e ao irmão Jean-Michel, mas foi absolvida no recurso, no dia 10 de julho. Brigitte e o irmão apelaram contra a decisão.
Entre os outros acusados estão também um funcionário eleito, um galerista e um professor. Todos podem ser condenados a até dois anos de prisão.
Queixa nos Estados Unidos
O julgamento no tribunal correcional de Paris acontece depois de, no final de julho, o casal presidencial ter avançado com ações legais nos Estados Unidos por difamação após anos de polémicas e rumores amplamente divulgados por redes conspiratórias e de extrema-direita.
A informação falsa surgiu após a eleição de Emmanuel Macron em 2017 e viralizou especialmente nos Estados Unidos, onde o casal presidencial recentemente iniciou ações legais contra a podcaster de extrema-direita Candace Owens, próxima ao movimento trumpista MAGA (Make America Great Again) e conhecida pelas suas posturas antissemitas e pró-Rússia.
Várias pessoas que vão ser julgadas em Paris por ciberassédio partilharam publicações de Owens, que possui milhões de seguidores nas redes sociais e é autora de uma série de vídeos entitulada "Becoming Brigitte" ("Tornando-se Brigitte", em português). Entre as imagens partilhadas está uma capa falsa da revista norte-americana "Time", na qual Brigitte Macron aparece como "homem do ano".
Noutra publicação, um acusado afirmou que duas mil pessoas estavam dispostas a seguir de "porta em porta em Amiens [a cidade natal do casal, no norte da França] para esclarecer o tema Brigitte", com a promessa de participação de influenciadores americanos na mobilização.
Esta não é a primeira vez que uma mulher do mundo da política é vítima de notícias falsas de caráter transfóbico. Situações semelhantes aconteceram com a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama, a ex-vice-presidente dos Estados Unidos Kamala Harris e a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern.
