Os EUA iniciam hoje a imposição de tarifas a vários parceiros comerciais, algumas delas com taxas pesadas sobre certos setores, como os 50% sobre produtos em cobre, permitindo isenções em outras áreas. Eis o retrato do novo cenário de relações comerciais com vários países em vários setores, a partir do mês de agosto.
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COREIA DO SUL
Na quarta-feira, Donald Trump anunciou que tinha chegado a um acordo comercial com a Coreia do Sul, que prevê tarifas de 15% para os produtos importados desde esse aliado.
Trump informou que Seul se comprometeu a investir 350 mil milhões de dólares (cerca de 300 mil milhões de euros) nos Estados Unidos, incluindo compras avultadas em gás natural liquefeito (GNL) ou outras fontes de energia.
Com este acordo, a Coreia do Sul escapa à ameaça inicial de Donald Trump de sobretaxas de 25%.
O Presidente norte-americano anunciou ainda que o seu homólogo sul-coreano, Lee Jae-myung, viajará a Washington para conversações bilaterais nas próximas duas semanas, que deverão complementar este acordo.
BRASIL
O Brasil deverá enfrentar uma sobretaxa de 50% em retaliação aos processos judiciais contra o ex-Presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado após a sua derrota nas eleições presidenciais de 2022 - uma iniciativa que Trump classifica como uma "caça às bruxas".
Na quarta-feira, Trump assinou um decreto com esse objetivo, com efeitos a partir de 06 de agosto.
De acordo com o decreto, a sobretaxa é justificada pela "ameaça invulgar e extraordinária que o Brasil representa à segurança nacional, à economia e à política externa dos Estados Unidos".
Nestas sanções e tarifas, incluem-se exceções para os aviões, sumo e polpa de laranja, castanha do Brasil e certos produtos de ferro, aço ou alumínio.
Washington acusa o juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal do Brasil, de "detenções arbitrárias" e de desrespeito pela "liberdade de expressão".
O Departamento de Tesouro norte-americano acredita que o juiz se aproveitou da sua posição de poder para "atingir adversários políticos, incluindo o ex-Presidente Jair Bolsonaro, jornalistas, empresas de redes sociais americanas e outras empresas americanas e internacionais".
COBRE
Donald Trump assinou uma proclamação que aumenta as tarifas sobre o cobre para 50% a partir de hoje, mas apenas sobre os produtos feitos com cobre, e não o metal em bruto, tranquilizando os profissionais do setor.
A Casa Branca anunciou na quarta-feira que, a partir de hoje, serão aplicadas tarifas de 50% às importações de produtos semiacabados de cobre, como tubagens, fios e tubos, bem como produtos com alto teor de cobre, como cabos, conectores e componentes elétricos.
A decisão foi particularmente bem recebida pelo Chile, o maior produtor mundial de cobre e o principal fornecedor dos Estados Unidos.
ÍNDIA
Trump, anunciou que os produtos indianos passam a estar sujeitos a uma tarifa de 25% à chegada aos Estados Unidos a partir de hoje, acrescentando que será acrescentada uma "penalidade" na compra de petróleo russo.
Esta nova tarifa imposta aos produtos indianos representa uma redução simbólica de um ponto percentual face aos 26% inicialmente divulgados no início de abril, por ocasião do anúncio de taxas alfandegárias erradamente apresentadas como recíprocas por Donald Trump.
Na terça-feira, o Presidente norte-americano já tinha dito que as taxas alfandegárias sobre os produtos "Made in India" poderiam situar-se entre os 20 e os 25%, acrescentando, no entanto, que um acordo ainda era possível.
Nova Deli e Washington iniciaram negociações para um acordo comercial há vários meses, mas até agora sem resultados, uma vez que a Índia não está disposta a abrir totalmente o seu mercado aos produtos agrícolas americanos.
UNIÃO EUROPEIA
O Presidente francês, Emmanuel Macron, lamentou numa reunião do Conselho de Ministros, na quarta-feira, que a UE, que enfrenta sobretaxas de 15%, não tenha sido suficientemente temida nas suas negociações comerciais com os Estados Unidos e insistiu que a França continuará a mostrar "exigência e firmeza" nas discussões futuras.
A UE poderá obter novas isenções durante as discussões que terão lugar para formalizar o acordo, de acordo com Macron, que apelou a "um trabalho incansável para reequilibrar o comércio, particularmente nos serviços".
No domingo, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen indicou que alguns produtos agrícolas ficarão isentos do imposto de 15%.
Em 2024, a UE exportou oito mil milhões de euros em álcool, incluindo mais de cinco mil milhões de euros em vinho, nos Estados Unidos, o seu maior mercado de exportação.
A França é responsável por cerca de metade: 2,4 mil milhões de euros em vinho e 1,5 mil milhões de euros em bebidas destiladas foram vendidos nos Estados Unidos (cerca de 25% das suas exportações).
FIM DA ISENÇÃO FISCAL NAS PEQUENAS ENCOMENDAS
A Casa Branca anunciou na quarta-feira que vai eliminar a isenção de impostos sobre os pequenos pacotes que entram nos Estados Unidos, a partir de 29 de agosto.
Anteriormente, a isenção permitia que mercadorias com um valor inferior a 800 dólares (cerca de 700 euros) fossem enviadas por encomenda postal sem a necessidade de pagar uma sobretaxa ao entrar nos Estados Unidos.
Assim sendo, os pacotes pequenos serão tributados ao mesmo nível dos restantes produtos do país de origem ou com uma taxa específica consoante o tipo de produto e a sua origem.
Segundo a Casa Branca, trata-se de "fechar uma brecha catastrófica utilizada, entre outras coisas, para evitar taxas alfandegárias e enviar opióides sintéticos e outros produtos perigosos".
Estes pequenos pacotes representam 98% dos estupefacientes, 97% dos produtos contrafeitos e 70% dos riscos para a saúde apreendidos em 2024, de acordo com a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos.