Assembleia Geral das Nações Unidas suspende Moscovo do Conselho de Direitos Humanos da ONU com 93 votos a favor. Para Diana Soller, investigadora do IPRI-Nova, a votação foi uma surpresa, apesar de se tratar de um "ato simbólico".
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Os crimes que terão sido cometidos pela Rússia na Ucrânia motivaram uma suspensão do país do Conselho de Direito Humanos da ONU. A decisão foi tomada após uma votação na Assembleia Geral das Nações Unidas e contou com 93 votos a favor, 24 contra e 58 abstenções. Diana Soller, investigadora do IPRI-Nova, disse estar surpreendida com o resultado, já que, embora se trate de um "ato simbólico", mostra que muitos países pretendem manter as ligações com o Kremlin.
A proposta foi apresentada na segunda-feira pela embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, e de imediato contestada pelo Kremlin, que agora defende que a suspensão é "ilegal" e "politicamente motivada".
Para Diana Soller, ao contrário do que seria de esperar, esta votação revela que "a Rússia não está sozinha", lembrando que "estes números contrastam com os da resolução da ONU que condenou a Rússia pela invasão à Ucrânia, votada em março". Nesta ocasião, 141 estados votaram a favor da condenação, apenas cinco votaram contra e 35 abstiveram-se.
Apesar de a votação desta quinta-feira representar um "ato de boa vontade", a especialista acredita que também evidencia que há países que "condenam a guerra, mas não estão dispostos a ir contra a Rússia", como é o caso da China, que votou contra a suspensão, e do Brasil e da Índia, que se abstiveram, fazendo questão de manter os laços diplomáticos com o regime de Putin.
Questionada sobre se a decisão não poderia aumentar as hostilidades, Diana Soller considera que "o país não deverá retaliar, pois está concentrado na batalha que irá desencadear em Donbass". Por outro lado, o elevado número de votos contra a condenação "dá ao Kremlin a certeza de que tem vários aliados espalhados pelo Mundo", o que pode representar uma motivação extra para o regime de Putin.
Grandes perdas no exército russo
A conjuntura atual dificulta o processo negocial, que depois do massacre de Bucha se mostra mais difícil. Diana Soller acredita que "neste momento não há espaço para negociações de paz", sobretudo porque a Rússia mantém a ideia de atacar massivamente Donbass. As barreiras ao diálogo foram ainda evidenciadas por Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, ao afirmar que Kiev apresentou a Moscovo um esboço de acordo de paz com "elementos inaceitáveis".
O Ocidente vai reforçar o apoio militar à Ucrânia, depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros de Kiev, Dmytro Kuleba pedir ajuda "antes que seja tarde demais". O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, revelou que os países da aliança, que se reuniram ao longo de dois dias, "reconheceram a urgência" de doar mais armamento e vão agir de forma célere.
No terreno, as tropas de Putin continuam a intensificar os ataques a leste e dizem já ter tomado totalmente Mariupol. "A cidade vai libertar-se dos batalhões nacionalistas", garantiu à "Sky News" o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que admitiu ainda grandes perdas no exército russo.
Embora as tropas de Moscovo estejam fragilizadas, o vice-chefe do Gabinete das Forças Terrestres da Ucrânia, Oleksandr Hruzevych, alertou que uma vitória russa no leste do país irá abrir margem a um novo ataque à região de Kiev. Em Dnipro, as autoridades pediram às mulheres, crianças e idosos que abandonem a cidade com receio que o número de mortes entre civis aumente, uma vez que, segundo a ONU já foram registados pelo menos 1611 óbitos.
Conselho de Direitos Humanos
Quando foi criado?
O Conselho de Direitos Humanos, criado em 2006, é o principal fórum da ONU responsável por promover e monitorizar esta área, sendo composto por 47 Estados-membros.
Quem faz parte?
Tanto a Ucrânia como a Rússia são atualmente membros do Conselho. Para suspender Moscovo era necessária uma maioria de dois terços.
Quem já foi suspenso?
A Rússia não é o primeiro país a ser suspenso deste fórum. Em 2011, a Líbia de Muammar Kadhafi foi suspensa do Conselho de Direitos Humanos, na sequência de uma votação na Assembleia Geral da ONU.