Governo, jornalistas e ativistas identificam autores de massacres em Bucha, Irpin e Hostomel
O governo ucraniano, ativistas e jornalistas estão a conseguir identificar as unidades e vários militares destacados em Bucha, Irpin e Hostomel, zonas onde terão ocorrido crimes de guerra. Os serviços secretos alemães terão informações que confirmam a morte deliberada de civis.
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Um grupo de jornalistas ucranianos, membro da Rede Global de Jornalismo de Investigação, garante que já identificou vários militares suspeitos de disparar sobre civis em Bucha. Alguns já terão admitido os atos.
O grupo utilizou várias ferramentas, como as redes sociais, para concluir que os militares em causa serão da 155.ª Brigada, oriunda de Vladivostok, no leste da Rússia. Segundo o site noticioso "slidstvo.info", o governo ucraniano acredita que os militares desta unidade terão cometido crimes de genocídio em Bucha, Irpin e Hostomel. Mas não serão os únicos a ser investigados.
Dez unidades suspeitas
A 3 de abril, o conselheiro presidencial ucraniano Alexey Arestovich apontou pelo menos dez unidades russas suspeitas de praticar crimes de guerra na região de Kiev. Nestas incluía-se a 64ª Brigada Motorizada.
O site do ministério da Defesa publicou uma lista com os nomes, postos e detalhes do passaporte de centenas de soldados desta unidade. "Lembrem-se! Todos os criminosos de guerra serão levados à justiça por crimes cometidos contra a população civil da Ucrânia", avisa.
"Carniceiro de Bucha"
À frente da 64ª Brigada está o tenente Coronel Azarbek Omurbekov, apontado por ativistas independentes como o "Carniceiro de Bucha". Segundo o grupo InformNapalm, este militar condecorado em 2014 e com cerca de 40 anos será o chefe de um verdadeiro "esquadrão da morte".
Os ativistas partilharam a sua fotografia, bem como morada pessoal, email e número de telefone.
Crimes de guerra e mercenários em Bucha
O "Bundesnachrichtendienst" (BND) - os serviços secretos internacionais alemães - informaram os deputados daquele país que imagens de satélite e interceções rádio de soldados russos comprovam a morte de civis em Bucha. Segundo a revista "Der Spiegel", os oficiais alemães terão dito, no mesmo briefing, que mercenários chechenos e do Grupo Wagner também terão estado na cidade.
As informações do BND provam que os elementos do Grupo Wagner terão tido um papel de destaque nas atrocidades. Recorde-se que estes mercenários russos já estiveram destacados na Síria, onde também foram acusado de matar e torturar civis.
Segundo testemunhas, inicialmente, os ocupantes russos de Bucha eram "jovens soldados". Porém, começaram a ser substituídos por outras unidades de militares mais velhos, incluindo chechenos, e a violência sobre civis tornou-se mais frequente. Os relatos ouvidos deixam no ar se esta evolução não faria parte do plano de ocupação.
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Estratégia de espalhar medo
Comunicações rádio intercetadas pelo BND revelam que as atrocidades cometidas pelos militares russos não foram nem atos ocasionais nem resultado de condutas individuais de soldados. Pelo contrário, fontes alemãs que ouviram as conversas dizem que os militares falavam dos atos violentos contra civis como se fossem assuntos mundanos
Aliás, segundo as mesmas fontes, as comunicações intercetadas indiciam que a morte de civis seria um elemento natural da atividade militar russa e até parte de uma estratégia mais ampla de espalhar medo entre a população.
Algumas das gravações ainda estão a ser examinadas pelos serviços de informações alemãs, mas uma análise preliminar parece deixar no ar que incidentes como os de Bucha poderão ter ocorrido noutras áreas, por exemplo nos arredores de Mariupol, cidade que continua cercada pelas tropas russas.
Vários soldados identificados
Através da análise de várias fontes abertas, principalmente redes sociais, os jornalistas do "slidstvo.info" identificaram o marinheiro Mikhail Tkach, de 20 anos, nascido em Vladivostok, que chegou à Ucrânia em fevereiro com a 155.ª Brigada.
Os jornalistas conseguiram contactar o militar que perante a acusação de ser "fascista" respondeu: "Estou vivo. Não apenas vivo, mas estou a esmagar o vosso povo. Transportem convosco o vosso passaporte de plástico para que, quando eu roubar os assassinados, eles possam ser identificados".
Os jornalistas também identificaram Aleksey Gaskov, de 20 anos, nascido na república russa de Buriácia e que se alistou alguns anos depois de terminar os estudos em 2017, tendo aderido ao Yunarmiya, um movimento inspirado na Juventude Hitleriana do regime da Alemanha nazi.
Os jornalistas identificaram ainda o sargento Aleksey Skulkin, de 33 anos, que é membro do exército russo há 15 anos e que supostamente participou na guerra da Síria como parte do apoio russo ao regime de Bashar al-Assad.
Destes soldados, assim como de outros pertencentes à 155.ª Brigada, o site jornalístico ucraniano disponibiliza fotografias, bem como de familiares, obtidas a partir de publicações dos próprios militares nas redes sociais.
Os jornalistas do "slidstvo.info" avançam que a referida brigada russa perdeu "aproximadamente metade dos seus membros" na Ucrânia, citando dados do exército ucraniano