A diretora-geral da Saúde da Escócia, Catherine Calderwood, anunciou na noite de domingo a sua demissão após ter desrespeitado as regras de confinamento que impôs, ao deslocar-se por duas vezes à sua segunda casa durante o atual surto do coronavírus.
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Através de uma declaração emitida cerca de sete horas após ter insistido que permaneceria no cargo, Calderwood, alvo de intensas críticas, disse ter abordado a controvérsia com a primeira-ministra da Escócia, e concluiu que a sua posição era insustentável, referiu o diário britânico The Guardian.
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A ex-diretora-geral admitiu que seria impossível para a população manter a confiança nos apelos oficiais para que sejam evitadas viagens não essenciais, e caso permanecesse no cargo. "As pessoas por toda a Escócia sabem do que necessitam para reduzir o surto deste vírus e isso significa que devem ter absoluta confiança em quem lhe transmite os conselhos. É com um coração pesado que me demito de diretora-geral de saúde", disse.
A demissão de Calderwood segue-se a um crescendo de críticas de líderes da oposição e da população, incluindo os habitantes de Earlsferry, Fife, onde ela e o seu marido possuem uma segunda casa.
No sábado, o jornal Scottish Sun revelou que os Calderwood e os seus três filhos passaram a noite de sexta-feira na sua casa de férias, com passeios com o cão a uma praia da região. De início, o Governo escocês disse que Catherine Calderwood tinha visitado a casa de praia para "verificar o estado" da habitação.
Foi ainda revelado que, apesar de ser a voz do Governo escocês destinada a exortar a população a evitar viagens não essenciais, ela e o marido também visitaram Earlsferry no fim de semana anterior, uma informação que Calderwood e o Executivo apenas admitiram na tarde de domingo.
A sua demissão surge algumas horas após ser forçada a desculpar-se por ter desrespeitado o confinamento. Em conferência de imprensa, Calderwood disse ter consultado Sturgeon e assegurou que iria continuar em funções, o que acabou por não suceder.
De acordo com o balanço feito no domingo, o Reino Unido registou nas últimas 24 horas mais 621 mortes de pessoas infetadas, elevando o número total de óbitos durante a pandemia Covid-19 para 4.934, indicou o Ministério da Saúde britânico.
Na noite de domingo, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que há dez dias acusou positivo ao novo coronavírus, foi hospitalizado para novos exames.
O número de pessoas infetadas aumentou para 47.806, após diagnosticados mais 5.903 casos positivos em todo o país, que inclui Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.
A polémica com a diretora-geral de saúde escocesa coincidiu com as críticas do ministro da Saúde, Matt Hancock, às pessoas que aproveitaram o bom tempo durante o fim de semana para passear ao ar livre.
"Se não quiserem que tomemos a decisão de proibir o exercício de qualquer forma fora de casa, é necessário cumprirem as regras", avisou no domingo, em declarações à BBC, tendo acrescentado, na Sky News, que apanhar banhos de sol na relva de parques públicos vai contra as regras do Governo de evitar saídas desnecessárias.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já infetou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 68 mil.
Dos casos de infeção, mais de 283 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu, com mais de 664 mil infetados e mais de 49 mil mortos, é aquele onde se regista o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, 15.887 óbitos em 128.948 casos confirmados até hoje.