O ex-agente dos serviços secretos norte-americanos (CIA) Edward Snowden afirmou, este sábado, que Washington está a piratear as empresas de telemóveis chinesas para recolher milhões de mensagens de texto.
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As declarações de Snowden foram publicadas pelo diário "South China Morning Post", de Hong Kong.
O antigo agente da CIA e ex-consultor da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos da América refugiou-se em Hong Kong, no sul da China, desde que divulgou programas norte-americanos de vigilância de comunicações.
Na sexta-feira, os EUA acusaram Edward Snowden de espionagem.
"A NSA faz montes de coisas, como piratear empresas de telemóveis chinesas para roubar todos os vossos SMS (mensagens de texto)", declarou o antigo técnico da CIA, numa entrevista datada de 12 junho e este sábado publicada no site do "South China Morning Post".
Snowden "disse ter provas daquilo que afirma", de acordo com o diário, que não citou qualquer documento comprovativo.
As estatísticas oficiais, citadas pelo jornal, indicam que os chineses trocaram perto de 900 mil milhões de mensagens de texto em 2012, ou seja, mais 2,1% do que em 2011.
O artigo não divulga como a alegada operação de pirataria informação foi realizada, mas indica que os peritos chineses de cibersegurança há muito estão preocupados com "ataques clandestinos" desencadeados com equipamentos estrangeiros.
O jornal britânico "The Guardian" noticiou este sábado que os serviços de informações do Reino Unido têm um acesso a cabos de fibras óticas, que permite um papel predominante na vigilância das comunicações mundiais, de acordo com documentos que Snowden enviou ao diário.
De acordo com o ex-consultor, este fenómeno "não é apenas um problema norte-americano".
"O Reino Unido tem um papel importante", declarou Snowden, citado pelo "The Guardian". "São piores que os americanos", acrescentou, a propósito do Quartel General da Comunicações do Governo (GCHQ, sigla em inglês), serviços de escutas britânicos.
O GCHQ garantiu "respeitar escrupulosamente" a lei. "Não comentamos questões sobre serviços de informações. As nossas agências continuam a atuar no rigoroso cumprimento da lei", declarou uma porta-voz da agência britânica, com sede em Chetenham (centro).
De acordo com o jornal britânico, o GCHQ obteve um acesso aos cabos transatlânticos de fibra ótica, que possibilitam o tráfego na Internet e as comunicações telefónicas, mediante "acordos secretos" com as empresas privadas, e partilha os dados conseguidos com NSA.
Os dados obtidos podem ser armazenados por um período máximo de 30 dias pela agência britânica para serem analisados, no âmbito de uma operação com o nome de código "Tempora", que começou há 18 meses, noticiou o jornal.
O The Guardian acrescentou que os dados obtidos incluem gravações de conversas telefónicas, o conteúdo de correios eletrónicos, mensagens na rede social Facebook, o histórico da atividade 'online' de um cibernauta.
Os documentos consultados pelo jornal mostram que, em 2012, a agência britânica tinha acedido a mais de 200 cabos de fibra ótica e podia tratar 600 milhões de comunicações telefónicas por dia.
As duas principais componentes do programa de vigilância GCHQ são "Dominar a Internet" ('Mastering the Internet") e "Exploração das telecomunicações mundiais ("Global Telecoms Exploitation") e decorrem sem "que o público tenha qualquer conhecimento ou qualquer debate".
A ministra da Justiça alemã, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, declarou que se estas acusações de espionagem pelo Reino Unido se confirmarem, será "uma catástrofe". "As instituições europeias devem esclarecer imediatamente" esta questão, sublinhou.
O presidente da comissão parlamentar britânica encarregada dos serviços de informações e da segurança, Malcolm Rifkind, indicou esperar uma resposta do GCHQ sobre esta questão nos próximos dias.
O fundador do portal WikiLeaks - que publicou centenas de documentos secretos da diplomacia norte-americana -, Julian Assange, denunciou a acusação de Edward Snowden pela justiça norte-americana.
"O calvário de Edward Snowden só começou agora", declarou o australiano, num discurso divulgado "online" pelo WikiLeaks, refugiado há um ano na embaixada do Equador em Londres para evitar um processo de extradição para os Estados Unidos.