Ciclo político é visto nos EUA como referendo ao presidente e abre a porta ao regresso do republicano.
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Quase dois anos após assumir a presidência dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden enfrenta hoje o primeiro ciclo político, que servirá de barómetro à sua prestação como chefe da Casa Branca, ao mesmo tempo que irá testar a oposição republicana. A popularidade do democrata foi decrescendo nos últimos meses e uma vitória ou derrota no Congresso podem ser decisivas para a continuidade no poder. Enquanto isso, Donald Trump aproveita o cenário de descontentamento e deixa a possibilidade de se recandidatar às presidenciais.
A História política dos EUA dos últimos 160 anos indica que o partido que apoia o presidente em exercício costuma perder as intercalares e as estatísticas mostram que o prejuízo, em média, é a perda de 29 lugares na Câmara de Representantes. Além da tradição não beneficiar Biden, os níveis de popularidade do presidente também não somam pontos a favor. Uma sondagem, publicada no final de setembro, indica que 53% dos inquiridos consideram que o líder norte-americano não está a fazer um bom trabalho.
Atualmente, sentam-se na Câmara dos Representantes, que conta com 435 lugares, 222 democratas e 213 republicanos. No entanto, para que cada partido controle o órgão legislativo, precisa de eleger 218 congressistas. Contas feitas, os "vermelhos" só necessitam de conquistar cinco cadeiras para obterem o domínio da câmara, o que, de acordo com as sondagens, é o cenário mais provável.
"A hipótese mais sólida é a vitória dos republicanos na Câmara dos Representantes e a dos Democratas no Senado", antecipou Rui Henrique Santos, politólogo da Universidade Nova de Lisboa.
Uma vitória do Partido Republicano nas duas câmaras do Congresso implica que Joe Biden terá grandes dificuldades em avançar com leis que tem vindo a prometer. "O aborto, as armas de fogo, ou o sistema de saúde, estão em votação", lembrou o presidente recentemente. No entanto, a subida da inflação e a guerra na Ucrânia não se revelam trunfos para os democratas, abrindo caminho para críticas dos republicanos.
"Biden e o Congresso Democrata criaram a pior inflação em 50 anos e isto vai ficar muito pior", frisou Donald Trump, ex-presidente dos EUA, há poucas semanas, aproveitando a fraca popularidade do atual presidente para marcar uma posição política.
De olhos postos em 2024
Num dos últimos comícios onde marcou presença antes das eleições de hoje, o republicano voltou a sinalizar que pretende recandidatar-se às presidenciais. Trump disse que se candidatou duas vezes e "ganhou duas vezes", aludindo às eleições de 2016 e 2020, na última perdeu para Biden, embora continue a repetir que houve fraude. "Para que o nosso país seja bem-sucedido, seguro e glorioso, provavelmente terei de fazê-lo novamente", sublinhou.
O republicano pode estar à espera do resultado das intercalares para oficializar a pretensão. Ainda assim, sublinha Rui Henrique Santos, Trump não "necessita que uma vitória dos republicanos o catapulte para 2024". A opinião é partilhada pelo cientista político Nicholas Creel: "Trump é o líder indiscutível dos republicanos".
Perguntas
Do que se trata?
Conhecidas como "midterms", as eleições intercalares acontecem dois anos após as presidenciais. Este ano, vão a votos os 435 lugares da Câmara dos Representantes e 34 para o Senado. Serão ainda escolhidos 39 governadores.
Como se vota?
O processo eleitoral começa geralmente em setembro, com o voto antecipado e por correspondência. Os eleitos assumem funções a 3 de janeiro de 2023.
Biden vai a votos?
Não. As eleições não elegem o presidente, embora sejam consideradas um "referendo" à governação nos dois primeiros anos do mandato.