A "onda vermelha" não tomou os Estados Unidos, como previa Donald Trump, mas as vagas de choque começam a dar à costa. Os republicanos não vão conseguir a vitória que o ex-presidente antecipava e começaram as críticas ao envolvimento do magnata norte-americano na campanha para as eleições intercalares.
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Donald Trump anunciou uma "onda vermelha", em alusão à cor que define o Partido Republicano, que ia varrer os Estados Unidos da América (EUA), nas eleições intercalares de terça-feira. Quando faltam apurar os resultados em quatro estados, o partido do "elefante" lidera a corrida ao Congresso, com vantagem inferior à estimada, e pode não conseguir a maioria que pretendia no Senado.
"Estou muito desapontado", disse o senador Pat Toomey, que se retira do Senado. O republicano indigitado para concorrer ao lugar pela Pensilvânia, Mehmet Oz, foi derrotado pelo democrata John Fetterman. Um triunfo que animou os "azuis" e abateu os "vermelhos", desapontados com os resultados até ao momento, que deixam em aberto uma vitória democrata no Senado e dão um triunfo mais curto que o antecipado no Congresso.
"Um fator determinante nisto foi o desastroso envolvimento de Donald Trump em todo o processo", argumentou Toomey, considerando que o ex-presidente apoiou candidatos demasiado extremistas ou fracos, que minaram as hipóteses dos republicanos. "Em todo o país vimos que os candidatos mais ferrenhos de Trump tiveram resultados piores que republicanos mais convencionais", acrescentou o ainda senador, em declarações ao jornal norte-americano "Wall Street Journal", esta quinta-feira.
"Afinal, os candidatos e as campanhas contam", reagiu Kevin McLaughlin, antigo executivo no Comité Senatorial Nacional Republicano e um aliado do líder do Senado, o republicano Mitch McConnell.
"Trump escolheu perdedores natos para corridas que podíamos vencer", desabafou Gregg Nunziata, antigo conselheiro do senador Marc Rubio. "Escolheu candidatos fracos para corridas com vitória certa, obrigando o partido a gastar montes de dinheiro que podíamos usar noutros locais", acrescentou, no Twitter.
Never forget.
- Gregg Nunziata (@greggnunziata) November 9, 2022
Trump picked sure losers in winnable races.
He picked weak candidates in otherwise slam dunk races requiring the party to spend tons of money we'd rather spend elsewhere.
Of, and speaking of money, he hoovered up tens of millions and barely spent a dime to help Rs.
Entre os candidatos apoiados por Trump, havia políticos alinhados com as teorias da conspiração promovidas pelo ex-presidente, que não aceitou bem a derrota nas eleições de 2020, e outros republicanos mais "hard-core", que parecem não ter convencido o eleitorado.
"A maioria pensava que a economia não estando bem os republicanos iam sair-se bem", disse o ex-senador republicano Judd Gregg, do New Hampshire. As pessoas, disse, votaram em três coisas: "Trump, aborto e rejeição dos republicanos que trouxeram esta teoria da conspiração", acrescentou, em declarações ao "Wall Street Journal" (WSJ).
O partido tem de fazer alguma coisa em relação a Trump
McConnell tinha vocalizado preocupações sobre alguns candidatos nomeados, entrando em confronto com o ex-presidente Donald Trump e o senador Rick Scott, o diretor do braço executivo da campanha republicana para o Senado. O líder da maioria considerava que o partido apresentava candidatos extremistas ou pouco apelativos para vencer eleições, podendo custar lugares no Senado.
Scott rejeitou as alegações de McConnell e Trump foi... Trump, sugerindo que fosse substituído no cargo de líder da maioria no Senado.
O resultado não passou despercebido ao canal de televisão "Fox News", historicamente alinhado com o ex-presidente, que deu voz a vários críticos. "Toda a discussão está centrada na raiva contra Trump, de uma forma que não tinha visto antes", escreveu Michael Brendan Dougherty, editor sénior da "National Review", num post no Twitter. "O único tipo que atacou antes das eleições foi DeSantis - o vencedor claro - enquanto os homens do ex-presidente só fazem porcaria", acrescentou.
"Fontes partidárias dizem-me que depois desta noite, com os escolhidos de Trump com resultado abaixo do esperado e DeSantis a vencer com uma diferença de dois dígitos, 2024 está aberto a todos", escreveu Phil Wegmann, repórter do RealClearPolitics, citado na edição online da "Fox News", esta quinta-feira. "Se querem derrotar Trump, ele nunca esteve tão fraco", acrescentou.
"O partido tem de fazer alguma coisa em relação a Trump", disse Sarah Chamberlain, líder da Aliança Republicana Main Street, que junta políticos republicanos, alguns com lugares de destaque. O ex-presidente e a resposta a questões como o aborto prejudicaram o partido, acrescentou.
Defensores do aborto venceram nos estados em que o tema foi às eleições
Segundo um levantamento feito pela agência Lusa, defensores do aborto venceram nos quatro estados onde o tema foi às urnas nas eleições intercalares norte-americanas: Michigan, Vermont e Califórnia e a derrotarem uma medida antiaborto no Kentucky. Neste último, segundo os primeiros resultados, milhares de eleitores votaram no senador republicano Rand Paul, que se opõe ao próprio partido nesta questão.
"Esta é uma vitória importante que estabelece as bases para o progresso futuro", observou o Instituto Guttmacher, que defende o direito ao aborto e à contraceção em todo o mundo.
Segundo as mais recentes projeções da Associated Press (AP), o Partido Republicano lidera a corrida na Câmara dos Representantes, a câmara baixa do parlamento norte-americano, com 207 mandatos, face aos 184 congressistas assegurados pelos democratas. Para atingir uma maioria na Câmara dos Representantes, qualquer um dos partidos terá de conquistar pelo menos 218 lugares.
No Senado, a câmara alta do parlamento norte-americano, os republicanos somam 49 lugares, mais um que os democratas, com quatro assentos ainda em disputa, um dos quais, no Alasca, sem hipóteses para os Democratas. Nevada e Arizona estão em aberto, enquanto na Geórgia decorrerão novamente eleições em dezembro, uma vez que nenhum dos candidatos atingiu a marca dos 50%, segundo a imprensa norte-americana.
Para manter o controlo do Senado, os Democratas terão de ganhar pelo menos duas destas três corridas, perfazendo 50 dos 100 lugares, os mesmos que tinham antes destas eleições. O voto de qualidade da vice-presidente Kamala Harris serve para desempatar a favor dos "azuis".