Em greve de fome, Navalny pode sofrer paragem cardíaca "a qualquer momento", alertam médicos
Médicos próximos de Alexei Navalny, detido e em greve de fome, exigiram, este sábado, ter autorização para ver o político, alertando que o opositor russo pode sofrer uma paragem cardíaca "a qualquer momento".
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Alexei Navalny, considerado como o principal crítico do Kremlin, iniciou no passado dia 31 de março uma greve de fome em protesto contra as condições de detenção a que está sujeito, acusando a administração penitenciária de lhe recusar o acesso a um médico e a medicamentos, uma vez que sofre, segundo os seus advogados, de uma dupla hérnia discal.
A médica pessoal do opositor russo de 44 anos, Anastassia Vassilieva, e outros três médicos, incluindo um cardiologista, estão a exigir ter acesso imediato a Navalny, segundo uma carta enviada aos serviços prisionais russos. De acordo com a médica, o nível de concentração de potássio no sangue de Navalny atingiu um nível "crítico" de 7,1 mmol /L (milimoles por litro), "o que significa que tanto a função renal está alterada, como graves problemas de ritmo cardíaco podem ocorrer a qualquer momento".
Mais de 70 personalidades internacionais, incluindo os atores Jude Law, Vanessa Redgrave e Benedict Cumberbatch, pediram na sexta-feira, num artigo de opinião publicado no jornal francês "Le Monde", que sejam fornecidos os cuidados necessários a Navalny.
"Um paciente com tal nível de potássio deve ser observado nos cuidados intensivos, porque uma arritmia fatal pode desenvolver-se a qualquer momento. Morte por paragem cardíaca", referiu, por sua vez, o cardiologista Iarolav Achikhmin, citado pelas agências internacionais. Através do Twitter, a porta-voz do opositor, Kira Iarmych, citou o médico Alexandre Poloupane, que acompanhou o estado de saúde de Alexei Navalny em outras ocasiões, afirmando que tais parâmetros apontam para a necessidade de uma hospitalização: "Se o tratamento não começar, ele morrerá nos próximos dias."
Ativista anticorrupção e principal opositor do presidente russo, Vladimir Putin, Alexei Navalny sobreviveu em 2020 a um envenenamento com um agente neurotóxico, do tipo Novichok, da era soviética. O opositor ficou em coma, tendo acusado o Kremlin e os serviços secretos russos do ataque, acusações que Moscovo sempre rejeitou. Após cinco meses em convalescença na Alemanha, o opositor regressou em janeiro à Rússia e foi imediatamente detido. Posteriormente, foi condenado a dois anos e meio de prisão no âmbito de um antigo processo de fraude, caso que classificou como "político". A mulher do opositor, Ioulia, que visitou o marido no início desta semana, relatou que este já perdeu nove quilos desde que começou a greve de fome.