Os números estão, todos dizem, errados. E as imagens que têm corrido o mundo confirmam que é impossível só 180 pessoas terem morrido no Equador, como dizem os sites de estatísticas mundiais, 70% das quais na província de Guayas, capital Guayaquil, segunda cidade do país, foco inicial do novo coronavírus - uma Wuhan equatoriana, chamam-lhe os jornais - trazido por uma emigrante regressada de Espanha, era dia dos namorados, não devia haver tantas coincidências em histórias destas.
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As imagens são de caixões nas valetas, nos pátios, nas salas, à porta de clínicas, porque já não cabem em morgues e funerárias, às vezes, são sacos de plástico, sem urna. Porque não há ninguém para levantá-los. Impossível serem tão poucos quanto os números: 180. Ou 318, números oficiosos. Ainda assim, impossível.
O inferno chegou ao ponto de as autoridades locais terem criado uma linha de apoio no WahtsApp para as famílias enlutadas com o objeto do luto à porta de casa, porque já é incomportável mantê-lo no lar, porque está calor, porque passam os dias. E distribuírem duas mil urnas de cartão. Assim mesmo. "Para oferecer um enterro digno àqueles que morrem durante esta emergência sanitária", justifica a autarquia de Guayaquil.
"Parece um hospital de zona guerra. O que temos visto é digno de um filme de terror". Fala um médico de uma unidade central da cidade, ao "The Guardian". Vítor teve que abrir várias urnas para encontrar a mãe, ainda de máscara posta, conta o "El País". Guillermo procurou o pai numa arrecadação onde estava tudo trocado, nomes, homens por mulheres, havia sangue no chão. Willy anda há nove dias à procura da mãe, diz o "El Comercio".
O Governo enviou militares, enviou polícias, apanharam mortos, juntaram-nos como calha, não há crematórios que cheguem.
As autoridades foram instruídas, não podem dar números. É Carlos Luis Morales, político local, que desabafa com a CNN en Español. "Só para ter uma ideia, foram passados 480 certificados de óbito desde ontem (2 de abril). Estão a ser recolhidos diariamente 150 corpos...".