Confrontos feriram 30 soldados da NATO e mais de 50 sérvios kosovares, grupo minoritário que boicotou as eleições convocadas por Pristina, em abril.
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A repressão aos protestos contra a posse dos presidentes de Câmara de origem albanesa em quatro cidades com maioria sérvia, no Norte do Kosovo, resultou em mais de 50 manifestantes feridos, na segunda-feira, além de 30 soldados da missão de paz da NATO, em Zvecan. A Aliança Atlântica respondeu esta terça-feira à escalada de tensões com a mobilização de mais tropas.
A revolta recente foi desencadeada após a convocação de eleições municipais por Pristina, depois da renúncia de autarcas de cidades de maioria sérvia, em novembro, em protesto contra novas regulações. Realizado em abril, o escrutínio boicotado pelos sérvios kosovares resultou num comparecimento de menos de 4%, o que permitiu a vitória de candidatos de origem albanesa para comandarem autarquias no Norte do Kosovo. Sob oposição da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos, as cerimónias de posse ocorreram na sexta-feira, com um forte aparato de segurança.
Os protestos em Zvecan, na segunda-feira, tiveram uma escalada de tensões após a tentativa de manifestantes de entrarem no edifício da autarquia, usando pedras, garrafas e cocktails molotv para atacar. Mais de 50 sérvios kosovares ficaram feridos, a maioria por problemas causados por intoxicação com gás lacrimogéneo e por contusões.
Membros da KFOR, a missão de paz da NATO, estavam entre os manifestantes e a polícia kosovar, que bloqueava o edifício municipal. Trinta soldados da Aliança Atlântica ficaram feridos nos confrontos, incluindo 11 italianos e 19 húngaros - três destes atingidos por armas de fogo, mas sem correrem risco de vida. Os ferimentos incluíram ainda fraturas e queimaduras.
Aliança Atlântica destaca tropas
O major general Angelo Michele Ristuccia, comandante da missão, defendeu que "ambas as partes precisam de assumir a total responsabilidade pelo que aconteceu e evitar qualquer agravamento, em vez de se esconderem atrás de falsas narrativas". A nota reiterou ainda que a KFOR "respondeu aos ataques não provocados de uma multidão violenta e perigosa, enquanto cumpria o seu mandato na ONU de forma imparcial".
"Tais ataques são inaceitáveis e devem parar", afirmou o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg. A Aliança Atlântica destacou esta terça-feira mais tropas para a KFOR, além de colocar em prontidão um batalhão multinacional de forças na reserva, segundo comunicado de uma base da NATO no Sul de Itália, citada pela agência France-Presse.
Reações internacionais
O primeiro-ministro kosovar, Albin Kurti, em declarações ao jornal "The Guardian", classificou os manifestantes de "multidões fascistas". Já o presidente da Sérvia acusou o Governo kosovar de discriminar e atuar de forma violenta com a comunidade sérvia. Aleksandar Vucic apelou a que os EUA, a Alemanha, a França, a Itália e o Reino Unido influenciem Pristina a retirar os autarcas de etnia albanesa.
O chefe de diplomacia da UE, Josep Borrell, pediu diálogo para que haja uma desescalada da "violência chocante". Aliado de Belgrado, o Governo russo pediu ao Ocidente o fim da "falsa propaganda" contra os "sérvios levados ao desespero".