Supremo Tribunal pode arquivar, dentro de seis meses, as investigações abertas contra o monarca que poderá voltar para casa se Felipe VI aceitar.
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Um ano e meio no exílio dourado de Abu Dhabi nos Emiratos Árabes parece ter sido suficiente para Juan Carlos I ponderar seriamente um regresso a Espanha mais cedo que o esperado. O privilégio da imunidade durante o reinado e a regularização fiscal do ano passado tem dificultado ao máximo as tentativas jurídicas fracassadas para que o antigo monarca responda pelo crime de corrupção perante a Justiça.
O rei emérito espanhol está à espera que o Supremo Tribunal arquive os três escândalos para abraçar um desejo pessoal que pode pôr em xeque o filho, Felipe VI.
O Ministério Público suíço deu o primeiro passo nesta caminhada histórica, após encerrar a investigação que mantinha aberta desde 2018 contra Juan Carlos I, por branqueamento de capitais no âmbito da adjudicação da construção da linha de alta velocidade entre Medina e Meca. O magistrado do Ministério Público Yves Bertossa não conseguiu demonstrar uma ilegalidade na transferência de 65 milhões de euros recebida pelo monarca espanhol por parte do homólogo saudita.
Um dinheiro que mais tarde acabaria na conta da amante de Juan Carlos, Corinna Larsenn, que ainda tem aberta uma frente jurídica contra o emérito em Londres. A antiga princesa alemã apresentou no tribunal britânico uma queixa por assédio e ameaças, obrigando os advogados reais a apelar à imunidade do seu cliente para evitar ser julgado no estrangeiro.
O segundo caso de investigação do Supremo contra o rei emérito é protagonizado pelo milionário empresário mexicano Allen Sanginés-Krause, que custeou durante décadas gastos da Casa Real com fundos próprios sem serem declarados ao fisco. Como algumas das faturas correspondiam a datas posteriores à abdicação, em 2014, Juan Carlos decidiu regularizar a situação fiscal no ano passado, pagando mais de cinco milhões de euros, para, assim, reconhecer a fraude, mas evitar o delito.
Árdua tarefa
Entretanto, Espanha recebeu das autoridades suíças a documentação que esperava analisar para decretar o arquivamento das três últimas investigações abertas contra Juan Carlos. Esta linha de investigação trata de conhecer a origem da fortuna de mais de dez milhões de euros, propriedade do monarca, oculta num fundo financeiro, na ilha de Jersey.
Os magistrados do Supremo Tribunal não têm esperança de encontrar algum novo indício, pelo que poderão pôr um ponto final aos escândalos reais nos próximos seis meses abrindo definitivamente as portas ao regresso de Juan Carlos a Espanha, isento de encargos.
Planear uma volta a casa do emérito será uma árdua tarefa para a Casa Real que tomará sempre a última decisão sobre um assunto classificado de "familiar" pelo Governo da Espanha. Além de definir a data, Felipe VI ainda deve dar resposta a muitas perguntas sobre o futuro próximo do pai. Os espanhóis querem saber se Juan Carlos voltará a viver no palácio real de La Zarzuela e se manterá o título honorífico como rei emérito.
Por outro lado, o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, tenta afastar-se ao máximo da situação real para preparar uma defesa perante o terremoto político que se avizinha. Os socialistas deverão lidar com os ataques do parceiro de coligação, Unidas Podemos, de ideologia republicana, e com as habituais críticas dos partidos independentistas, - Partido Nacionalista Basco, Esquerda Republicana da Catalunha -, que costumam apoiar o Executivo.