Rei emérito decidiu permanecer em Abu Dhabi apesar do arquivamento das investigações que o levaram ao exílio.
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O Governo espanhol pressionou, na terça-feira, após uma reunião do Conselho de Ministros, o rei emérito Juan Carlos a dar explicações ao país sobre as suspeitas de tráfico de influência que estiveram na base de três investigações de que foi alvo e que foram entretanto arquivadas.
Apesar daquela decisão judicial, que permite ao antigo monarca ponderar o seu regresso a Espanha, Juan Carlos prefere, "por enquanto", continuar a residir "de forma permanente e estável em Abu Dhabi", conforme escreveu ao seu filho, o atual rei Felipe VI, sem revelar os "motivos que pertencem" à sua "esfera privada".
A porta-voz do Executivo espanhol, Isabel Rodríguez, disse que o Governo teve conhecimento prévio do conteúdo da carta, que foi divulgada pela família real, e manifestou o seu respeito quer pela decisão de Juan Carlos como pela resposta da Casa Real.
Em conferência de imprensa, depois do Conselho de Ministros, a porta-voz defendeu que os espanhóis "merecem uma explicação" sobre as atividades económicas do rei emérito, nomeadamente as suspeitas de tráfico de influência, apesar do arquivamento das três investigações. Na base da abertura dos inquéritos estiveram suspeitas de peculato.
Primeiro-ministro insiste
Sobre o exílio nos Emirados Árabes Unidos em 2020, o rei emérito alegou, na carta que enviou no início da semana ao seu filho, que pretendia também, deste modo, "facilitar o exercício das funções" a Felipe VI. Foi a Casa Real espanhola quem revelou na segunda-feira que o rei emérito decidiu permanecer em Abu Dhabi.
Na Estónia, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, insistiu também na exigência de que Juan Carlos dê explicações aos cidadãos sobre as informações "dececionantes" relativas aos acontecimentos que lhe foram atribuídos e que motivaram os inquéritos.
Por sua vez, o rei Felipe VI fez saber que "respeita e compreende a vontade" do pai, segundo informou a família real no comunicado que acompanhou a carta.
Juan Carlos I teve um papel determinante na transição democrática espanhola após o ditador Francisco Franco ter morrido em 1975. Mas abdicou em 2014 na sequência de vários escândalos.
Adjudicação dominou
Das várias investigações que foram abertas pela justiça espanhola, a mais mediática foi conduzida desde 2018. O objetivo deste inquérito em particular foi apurar se o antigo rei de 84 anos tinha recebido uma comissão pela adjudicação, sete anos antes, da construção de uma linha ferroviária entre Meca e Medina, na Arábia Saudita, a um consórcio de Espanha.
A última investigação foi instaurada após um relatório do "serviço de prevenção do branqueamento de capitais" sobre uma empresa ligada ao antigo monarca na ilha de Jersey, um paraíso fiscal.
O Ministério Público reconheceu as "irregularidades fiscais" de que foi culpado de 2008 a 2012, mas disse que não podia ser processado à luz do estatuto de limitações à infração e da imunidade como chefe de Estado.
Casos
Comissão
Em 2018, foi investigado pela comissão de 100 milhões de dólares que recebeu por adjudicar a um consórcio espanhol uma linha ferroviária na Arábia Saudita. O Ministério Público (MP) disse ser à priori um presente ao chefe de Estado, mas que podia ter representado um delito de corrupção agora prescrito.
Cartões e capitais
O MP investigou também o uso de cartões de crédito ligados a contas bancárias em nome de um empresário mexicano e de um oficial da força aérea espanhola. E ainda um alegado branqueamento de capitais, no âmbito de uma empresa ligada ao antigo rei num paraíso fiscal.