Primeiro foguetão espanhol, com fabrico 100% nacional, será lançado no final deste ano. Aposta na indústria espacial é prioridade para desenvolver projetos estratégicos para o país.
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A bravura é a qualidade que permitiu aos touros do gado Miura ganhar fama nas praças de todo o mundo. Espanha tomou a decisão de mudar o rumo da sua história participando pela primeira vez na corrida espacial. Em honra da tradicional valentia destes animais, a empresa PLD Space chamou Miura I ao primeiro foguetão espanhol que viajará mais além da Terra em finais de 2022.
Com um tamanho de 12 metros de comprimento e capacidade para transportar no interior uma carga de 100 kilos, o Miura I é um projétil de lançamento suborbital preparado para ficar durante três minutos em microgravidade para realizar experiências.
A missão, que vai pôr em órbita o inovador foguetão com um ADN 100% nacional, será controlada a partir do Centro de Interpretação do El Arenosillo, em Huelva. A propriedade do Ministério de Defesa espanhol, de onde já se lançaram mais de 550 foguetes de sondagem, é considerado pelos especialistas o lugar ideal para o lançamento devido às condições meteorológicas que impedirão um adiamento da tarefa.
O voo da nave vai durar aproximadamente 12 minutos, durante os quais atingirá uma altura de 153 quilómetros antes de perder força e regressar à Terra mediante um paraquedas. A própria empresa vai encarregar-se de recolher o foguetão no meio do Atlântico, a 70 quilómetros do ponto de lançamento. Atualmente, o Miura I, depois de ter sido fabricado por completo nas instalações centrais da PLD Space em Elche, encontra-se nas instalações do Aeroporto de Teruel, realizando as últimas provas combinadas do motor de qualificação do voo, aliás, um ensaio do fogo similar às condições de voo, mas sem descolar.
Referente internacional
A indústria aeroespacial foi uma utopia para a grande maioria das empresas espanholas há uma década, devido à falta de recursos tecnológicos e económicos para apostar em força. Porém, a situação está próxima a mudar.
O Governo aprovou a criação da Agência Espacial Espanhola que atuará como intermediária entre a NASA e a Agência Espacial Europeia. Segundo fontes oficiais, o novo organismo, que estabelecerá um marco comum a seguir por empresas públicas e privadas, não pretende levar astronautas espanhóis a Marte, mas sim desenvolver projetos ligados à defesa do estado que permitam pôr em órbita satélites sem depender de companhias estrangeiras.
"Até este momento, Espanha só tinha capacidade para fabricar barcos e partes de aviões, mas agora somos capazes de fabricar foguetes espaciais", explicou o cofundador da PLD Space, Raúl Torres, no dia da apresentação do Miura I, no Museu das Ciências Naturais de Madrid.
As expectativas espanholas não ficam por aí e entre os planos da PLD Space está a construção do foguetão Miura 5. Este novo e mais avançado projeto será formado por um lançador orbital privado reutilizável que se especializará no transporte de pequenos satélites. A empresa prevê realizar a sua primeira missão em 2024, na Guiana Francesa.
As duas missões espaciais do Miura colocarão Espanha no reduzido grupo de países em condições de enviar ao espaço satélites de pequeno tamanho, fundamentais para melhorias nas telecomunicações, defesa e investigação científica.