Atualmente preso no Brasil, Sergei Cherkasov passou mais de uma década a construir uma identidade falsa, sendo acusado de espionagem pelos EUA. Mesmo depois de preso continuou a garantir chamar-se Victor e ser filho de um português. Moscovo pediu a sua extradição.
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Estudou ciência política no "Trinity College", na Irlanda, e relações internacionais na universidade John Hopkins, nos EUA. Sempre com a mesma identidade. Tentou até ir trabalhar para o Tribunal Penal Internacional, em Haia, nos Países Baixos, mas o esquema teria os dias contados. O brasileiro Victor Ferreira é, afinal, Sergei Cherkasov, cidadão russo denunciado formalmente, na sexta-feira, pelo Departamento de Justiça norte-americano pelo crime de espionagem.
Cherkasov, de 39 anos, começou a atuar como "agente ilegal" russo no Brasil em 2012. Seis anos depois, mudou-se para os EUA, com o pretexto de fazer uma pós-graduação. No entanto, de acordo com as autoridades americanas, utilizou os seus contactos universitários para obter informações sobre a política externa do país, tendo estado em contacto com os serviços de informação russos em 2021 e 2022.
Segundo informações do portal brasileiro G1, há três endereços em São Paulo ligados a Victor Ferreira: dois apartamentos no município de Cotia e um no bairro de Butantã. Durante os mais de dez anos em que "construiu" a sua identidade, Sergei fez uma vida completamente normal: foi a festas, aprendeu forró e namorou com uma brasileira.
"Fiquei chocado. Um rapaz super comunicativo, saía para dançar e depois descobre-se que é um espião russo", afirmou o professor de forró Pheliphe Britto, que conviveu com Cherkasov, ao G1.
Em abril de 2022, ao tentar entrar nos Países Baixos para ir trabalhar no Tribunal Penal Internacional a falsa identidade foi descoberta. O agente russo viu-se forçado a voltar ao Brasil e acabou por ser preso à chegada a São Paulo. Meses depois, foi transferido para Brasília.
Biografia fictícia
Nas buscas domiciliárias realizadas pela polícia brasileira foi encontrado um documento com a biografia fictícia de Victor Ferreira, que supostamente teria nascido em Niterói.
Nas primeiras semanas de prisão, Sergey negou convictamente ser um espião russo, assegurando que o seu nome era Victor e que era filho de um português e de uma brasileira, tendo sido criado por uma tia na Argentina. Dois meses depois acabou por confessar a sua real identidade, após receber a visita de um diplomata russo, recusando, todavia, as acusações de espionagem.
Em julho do ano passado, foi condenado a 15 anos de prisão. No entanto, em setembro, Moscovo solicitou formalmente ao Governo brasileiro a sua extradição para a Rússia, onde alegadamente era procurado por tráfico de drogas. Com a denúncia feita, agora, pelos EUA, as autoridades pretendem impugnar o pedido feito por Moscovo.