Um jornalista americano do "The Wall Street Journal" foi detido na Rússia e acusado de espionagem. Foi "apanhado em flagrante", sublinha o Kremlin. Vai ficar em prisão preventivo até 29 de maio.
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O Serviço Federal de Segurança (FSB) anunciou, em comunicado, que "frustrou as atividades ilegais do cidadão americano Evan Gershkovich (...) correspondente em Moscovo do jornal americano The Wall Street Journal".
O jornalista "é suspeito de espiar para o governo americano" e de recolher informações "sobre uma empresa do complexo militar-industrial russo".
"O estrangeiro foi detido em Yekaterinburg enquanto tentava obter informações classificadas", adianta o FSB, referindo-se a uma cidade no centro da Rússia a 1800 quilómetros a leste de Moscovo.
Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, sublinhou que o jornalista do "The Wall Street Journal" foi "apanhado em flagrante". "Infelizmente, esta não é a primeira vez que o estatuto de correspondente estrangeiro, visto de imprensa e acreditação, é utilizado por estrangeiros no nosso país para encobrir atividades que não sejam jornalismo. Esta não é a primeira vez que um ocidental bem conhecido é apanhado", frisou.
Prisão preventiva até maio
Um tribunal russo ordenou a prisão preventiva por dois meses do jornalista Evan Gershkovich.
"Por decisão do tribunal de Lefortovo de Moscovo em 30 de março de 2023 sobre Gershkovich E. (...), foi escolhida uma medida preventiva de detenção (...) até 29 de maio de 2023", anunciou o tribunal em comunicado. A sua detenção pode ser prolongada no final deste período.
O caso de Gershkovich foi classificado como "altamente secreto", de acordo com uma fonte judicial citada pela agência oficial de notícias russa TASS, que também indicou que o jornalista se declarou inocente das acusações.
A detenção por espionagem de um jornalista estrangeiro é algo sem precedentes na história recente da Rússia.
"A forma como o FSB interpreta a espionagem hoje em dia significa que qualquer pessoa que esteja simplesmente interessada em assuntos militares pode ser presa durante 20 anos", disse a analista política russa Tatiana Stanovaya nas redes sociais em resposta à detenção.
O crime de espionagem pode ser punido com pena de 10 a 20 anos de prisão, segundo o artigo 276 do código penal russo.
O Kremlin já avisou Washington sobre medidas de retaliação contra os meios de comunicação russos. "Esperamos que isso não aconteça e não deve acontecer", disse o porta-voz Dmitry Peskov, referindo-se a quaisquer possíveis medidas contra os meios de comunicação russos nos Estados Unidos, acrescentando que o repórter detido tinha sido "apanhado em flagrante".
"O The Wall Street Journal está profundamente preocupado com a segurança" de Evan Gershkovich e numa declaração, esta quinta-feira, negou com veemência as acusações contra o repórter e pediu a sua "libertação imediata".
A organização Repórteres Sem Fronteiras declarou-se "preocupada" com "o que parece ser uma medida de represália". "Jornalistas não devem ser alvos de ataques!", exortou.
Antes de começar a trabalhar para o "The Wall Street Journal" em 2022, Evan Gershkovich era correspondente da agência de notícias francesa AFP em Moscovo e também trabalhou para o jornal de língua inglesa "Moscow Times".
De origem russa, o jornalista, de 31 anos, fala russo e os seus pais vivem nos Estados Unidos, para onde emigraram quando ele era criança.