
Andriy Yermak (à direita) era o chefe de gabinete do presidente ucraniano e foi alvo de buscas
Foto: Alessandro Della Valle/EPA
Zelensky destituiu, na semana passada, o chefe de gabinete, Andriy Yermak, considerado um dos homens mais influentes do país, após buscas em casa. Foi o culminar de um mês difícil para a Presidência ucraniana, depois de ter sido revelado um esquema de corrupção com ramificações muito próximas da liderança política do país.
Yermak liderava a delegação ucraniana nas reuniões com Washington e era um dos elementos mais importantes da equipa do chefe de Estado. A saída de cena ocorre apenas duas semanas depois da revelação de um escândalo de corrupção no setor energético, que resultou, no início de novembro, em várias prisões e na destituição de dois ministros.
O Gabinete Nacional de Luta contra a Corrupção revelou a existência de um "sistema criminoso", orquestrado, segundo os investigadores, por um aliado do presidente, o milionário e amigo próximo Timur Mindich (ler abaixo). A rede terá conseguido desviar cem milhões de dólares (86 milhões de euros) no setor energético.
Foto: Sergey Dolzhenko/EPA
Yermak é mencionado em gravações de conversas dos suspeitos, onde lhe são atribuídas ordens para pressionar as estruturas anticorrupção. Nelas, é identificado como "Ali Babá", formado a partir das primeiras letras do nome, Andriy Borisovich.
Ex-produtor de cinema e jurista especializado em propriedade intelectual, trabalhou ao lado de Zelensky nos anos em que o atual presidente era comediante. Para o analista político Volodymyr Fessenko, citado pela AFP, esta situação "enfraquece" a posição de Kiev nas negociações sobre o plano de paz e Moscovo aproveitará este escândalo "sem dúvida alguma", para ganhar vantagem.
A influência de Yermak sobre Zelensky tem atraído a atenção dos ucranianos desde o início da guerra e despertado perguntas, até mesmo no círculo presidencial. Críticos indicam que o chefe de gabinete concentrava um poder excessivo, exercendo de facto o controlo da política externa do país e limitando o acesso ao presidente.
É como se ele tivesse "hipnotizado" Zelensky, ironizou em novembro uma fonte de alto escalão do partido presidencial em declarações à AFP, afirmando que Yermak "afastou o Ministério das Relações Exteriores" das negociações com Washington. "Yermak não deixa ninguém aproximar-se de Zelensky, exceto os leais", e procurava "influenciar quase todas as decisões da Presidência", disse à AFP um ex-alto funcionário.
Timur Mindich, o amigo de Zelensky
Timur Mindich, empresário de 46 anos e muito próximo de Zelensky - terá até celebrado um aniversário em casa dele em 2021 -, é coproprietário da Kvartal 95, a produtora fundada pelo presidente antes de entrar na política. Terá deixado o país pouco antes de a investigação ser pública, em novembro, possivelmente rumo a Israel, e é acusado de "controlar" a lavagem de dinheiro e a sua distribuição, no caso relacionado com corrupção na área energética. Terá influenciado decisões de altos funcionários, incluindo o ex-ministro da Defesa Rustem Umerov, agora secretário do Conselho de Segurança Nacional. Fonte presidencial assegurou à AFP que Zelensky foi apanhado de surpresa e apoia "plenamente" a investigação, tendo até imposto sanções milionárias a pessoas próximas. Exigiu a renúncia do ministro da Justiça, German Galushchenko, e da ministra da Energia, Svitlana Grinchuk. Galushchenko, ex-ministro da Energia, é acusado de ter recebido "benefícios pessoais".
