Sandra Fernandes, especialista em Relações Internacionais da Universidade do Minho, analisa a visita de Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, aos EUA, onde foi recebido, esta quarta-feira, pelo homólogo norte-americano, Joe Biden.
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Qual o significado desta visita de Zelensky aos EUA?
Esta viagem é fora do comum, é verdadeiramente histórica. Além da dimensão simbólica, tem até uma dimensão emocional, porque comove muita gente. O objetivo do presidente Zelensky é comover a opinião pública americana, porque a 3 de janeiro vamos assistir ao Congresso a tornar-se republicano e, como se sabe, há uma grande fação do partido que quer travar esta guerra. Isto que significa deixar de armar tanto os ucranianos e começar a pensar num processo negocial, o que não é, de todo, pretendido pela Ucrânia.
O timing teve relevo no convite feito por Biden?
Sim. A principal mensagem é mostrar que os EUA apoiam a luta dos ucranianos. No entanto, com esta receção, Biden está a tentar testar o novo Congresso. Internamente, Biden está a preparar o terreno para janeiro, mostrando aos republicanos que armar os ucranianos é a melhor forma de os colocar numa boa situação negocial. Por outro lado, considero que o presidente americano também está a mostrar a Moscovo que Zelensky poderá negociar.
O discurso ameaçador de Putin antecipa mudanças drásticas no terreno?
Putin faz sempre o mesmo, não vi nada de novo no que disse hoje. Basta ouvir os media russos e a tónica é sempre a mesma, de que a Rússia está a ganhar. Este discurso não surpreende e dá a sensação habitual de fuga para a frente. No entanto, uma coisa é certa: Moscovo ainda tem muita carne para canhão.