Washington cessou temporariamente o fornecimento em oposição à anunciada operação militar em grande escala em Rafah. Centenas estão a abandonar a cidade rumo a Khan younis, a Norte.
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A Administração Biden interrompeu na semana passada o fornecimento de milhares de bombas a Israel, em oposição à anunciada incursão militar terrestre em Rafah, no extremo Sul de Gaza, confirmou o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin. Washington contesta, desde o ínicio, uma operação em grande escala que, entende, não inclui um plano de salvaguarda de mais de um milhão de civis palestinianos deslocados que ali procuraram refúgio nos últimos meses.
“Fomos muito claros desde o início que Israel não deveria lançar um grande ataque a Rafah sem prestar contas e proteger os civis que estão naquele espaço de batalha”, disse Austin, esta quarta-feira, numa audiência no Senado (câmara alta do Congresso) norte-americano.
"E, novamente, ao avaliarmos a situação, suspendemos um carregamento de munições de elevada carga”, acrescentou, salientando: “Não tomamos uma determinação final sobre como proceder com esse carregamento”. A remessa incluía 1800 bombas de 900 quilos e 1700 bombas de 225 quilos, adiantou um responsável, sob anonimato, à agência Associated Press. Armamento com grande capacidade de destruição em ambientes urbanos densamente povoados.
Também o presidente norte-americano, Joe Biden, se tem batido contra um ataque em grande escala na cidade situada junto à fronteira com o Egito, cujos arredores foram alvo de combates esta quarta-feira e numa altura em que as forças israelitas fizeram, nos últimos dias, alguns avanços na zona, forçando a população a começar a abandonar a cidade, muitos em direção a Khan Younis, a Norte de Rafah, já arrasada pela ofensiva israelita dos últimos sete meses.
O autarca de Rafah alertou hoje, citado pelo jornal “The Guardian”, que a cidade está “à beira de uma catástrofe humanitária de proporções sem precedentes”, num apelo à comunidade internacional. “As ruas da cidade ecoam os gritos de vidas inocentes perdidas, famílias dilaceradas e casas reduzidas a escombros”, descreveu.
O embargo ao envio deste armamento surge no contexto da esperada entrega de um relatório do Departamento de Estado norte-americano que analisará se a conduta de guerra de Israel está em conformidade com as garantias de que as armas fornecidas pelos EUA não estão a ser utilizadas em violação do Direito humanitário norte-americano e internacional.
As forças de Israel, que na terça-feira posicionaram tanques no lado palestiniano da fronteira de Rafah, encerrando a passagem controlada por Telavive, anunciaram a reabertura de outra passagem de ajuda humanitária para Gaza, a de Kerem Shalom, bem como a passagem de Erez, no Norte. A agência da ONU de assistência aos refugiados palestinianos (UNRWA) disse, no entanto, que a passagem de Kerem Shalom – que Israel havia encerrado depois de um ataque do Hamas que matou quatro soldados no domingo –, permanecia fechada esta quarta-feira, o que foi depois confirmado pelo exército israelita.
CIA reúne com Netanyahu
O diretor da CIA, William Burns, seguiu esta quarta-feira do Cairo, onde tem participado nas negociações de cessar-fogo, agora retomadas, para Israel, onde iria reunir com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Segundo a agência Reuters, as cinco delegações que participaram nas conversações de terça-feira – Hamas, Israel, EUA, Egipto e Catar – reagiram positivamente à retoma das negociações.