"Estamos a lidar com um louco ou maquiavélico". Indignação um mês após o desaparecimento de Émile
O desaparecimento de Émile, a 8 de julho, em França, completou um mês na terça-feira. O autarca de Le Vernet refere a hipótese de que a criança tenha sido deslocada da cidade por um "louco" ou "maquiavélico".
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Mesmo com buscas numa área de 97 hectares em Alpes-de-Haute-Provence – encerradas a 12 de julho –, nenhum vestígio de Émile foi encontrado. A investigação judicial, aberta a 18 de julho pelo procurador público de Digne-les-Bains, Rémy Avon, está a analisar dados dos cerca de 1600 telefones que estavam na região na hora do desaparecimento. A “massa considerável de informações”, como considerou Avon, foi fornecida pelas operadoras de telecomunicações.
A família da criança de dois anos e meio permanece sem pronunciar-se publicamente – a polícia estuda alegações de que o pai teria ligações com a extrema-direita. Uma das linhas de investigação diz respeito à alegada ligação do pai de Émile, Colomban S., a grupos de extrema-direita franceses. O engenheiro de 26 anos e a mãe da criança, Marie, estiveram ligados ao Bastião Social de Marselha, um movimento político já dissolvido, mas que tinha como meta a defesa do nativismo e a remigração, tendo sido responsável por vários ataques racistas.
Colomban S. – que compareceu a um tribunal, em 2018, por ser acusado de espancar dois jovens em Marselha – chegou a apoiar a campanha do partido do ultranacionalista Eric Zemmour. Apesar de reiterar que "todas as hipóteses estão em aberto", o procurador não vê, no entanto, indícios suficientes para relacionar as supostas posições políticas com o desaparecimento.
Segundo a BFM TV, os pais entraram com um processo civil para serem assistentes, ou seja, para poderem ser informados sobre o andamento do processo e ter acesso aos autos, através do advogado. Além disso, a ação permite que a família seja representada pelo causídico no caso de um julgamento.
"Fiz de tudo para que as investigações tivessem êxito, para que a justiça apurasse o motivo do desaparecimento e para que os autores desses factos fossem punidos", afirmou esta semana o presidente da Câmara municipal de Le Vernet, François Balique, em declarações à estação CNEWS. O autarca destacou o sentimento de "raiva" com o caso.
"Quando vemos que não encontramos Émile na comuna, isso significa que ele foi necessariamente deslocado. Não pode ser de outra forma. Só poderia ter sido deslocado por adultos, por um ou mais adultos", especulou Balique. "Ou estamos a lidar com um louco, ou estamos a lidar com alguém maquiavélico", completou.
"Eu sei o que vi"
O jornal "Le Parisien" publicou, esta quarta-feira, as palavras de uma das duas testemunhas que viram Émile pela última vez. "Eu sei o que vi", reiterou. O que este viu seria uma pequena criança loura, numa ladeira íngrime que vai em direção ao centro da aldeia, perto da casa dos avós. Os vizinhos não alertaram imediatamente as autoridades.
"As pessoas viram-no descer a estrada, não se preocupando porque as crianças circulam livremente na aldeia", disse o autarca de Le Vernet, citado pela rádio Franceinfo. "As pessoas viram-no passar à hora que corresponde ao momento em que fugiu à vigilância dos avós", destacou Balique, que defende que "não há perigo" na "aldeia tranquila". "Há apenas turistas que vêm a pé", acrescentou.
As provas encontradas nas operações de buscas – que inicialmente chegaram a envolver mais de 800 voluntários – não geraram resultados ainda. "Talvez, sem o saber, tenhamos recolhido uma pista decisiva", tinha afirmado Avon, a 12 de julho. Na noite anterior, as autoridades encontraram "vestígios de sangue” num "veículo suspeito”, que seguiram para análise de ADN. Porém, segundo o diário francês "L'Indépendant", as análises revelaram que o sangue descoberto era de origem animal.