EUA interrompem negociações para cessar-fogo em Gaza. Reino Unido anuncia reunião de emergência
O enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, disse, esta quinta-feira, que Washington vai interromper as conversações para um cessar-fogo em Gaza, depois de a última resposta do Hamas “mostrar uma falta de desejo de alcançar” uma trégua.
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“Embora os mediadores tenham feito um grande esforço, o Hamas não parece estar coordenado ou a agir de boa-fé”, disse Witkoff, anunciando o regresso da equipa de negociadores de Doha, Catar, para consultas. “Vamos agora considerar opções alternativas para trazer os reféns para casa e tentar criar um ambiente mais estável para o povo de Gaza”, adiantou.
Witkoff disse ainda que é “uma pena que o Hamas tenha agido desta forma egoísta” e que os Estados Unidos (EUA) estão “determinados” em procurar soluções para pôr fim ao conflito em Gaza.
Já o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que o grupo extremista palestiniano Hamas não deve encarar a intenção de Israel de querer alcançar um cessar-fogo como um sinal de “fraqueza”, depois do gabinete governamental ter anunciado também o regresso do Qatar dos negociadores de Telavive.
"Estamos a agir no sentido de obter um novo acordo para libertar os nossos reféns. Mas se o Hamas encarar a nossa intenção de o conseguir como uma fraqueza, como uma oportunidade para nos impor condições de rendição que ponham em perigo o Estado de Israel, está tristemente enganado", afirmou Netanyahu durante uma cerimónia em Jerusalém.
As conversações foram retomadas há várias semanas, com o objetivo de alcançar um novo cessar-fogo em Gaza, após o exército israelita ter rompido, a 18 de março, o acordo de tréguas estabelecido em janeiro com o grupo islamista e retomado a ofensiva militar.
No entanto, as negociações arrastam-se sem qualquer avanço, com cada lado a acusar o outro de se recusar a ceder em exigências importantes. O Hamas diz que só libertará todos os reféns em troca de uma retirada total de Israel e do fim da guerra, enquanto Telavive diz que não aceitará pôr fim à guerra enquanto o Hamas não abandonar o poder e não se desarmar - uma condição que o grupo extremista rejeita.
O primeiro-ministro britânico anunciou a realização de uma reunião de emergência, na sexta-feira, com os líderes de França e Alemanha para discutir a situação em Gaza, que considerou "uma catástrofe humanitária".
"O sofrimento e a fome que se vivem em Gaza são indescritíveis e indefensáveis" e a situação, que já era grave, "atingiu novos níveis e continua a piorar", afirmou Keir Starmer, em comunicado. "Estamos a assistir a uma catástrofe humanitária", lamentou.
O governante britânico afirmou que vai fazer uma "chamada de emergência com os parceiros do E3" [grupo formado pelo Reino Unido, Alemanha e França], para debater o que pode ser feito "com urgência para parar as mortes e levar às pessoas os alimentos de que precisam desesperadamente", ao mesmo tempo que serão reunidas "todas as medidas necessárias para construir uma paz duradoura". "Todos concordamos com a necessidade urgente de Israel mudar de rumo e permitir que a ajuda desesperadamente necessária entre em Gaza sem demora", acrescentou.
O chefe do Governo britânico reiterou o pedido de um cessar-fogo imediato e a libertação dos reféns pelo movimento islamita palestiniano Hamas, mas mantém que o Reino Unido só vai reconhecer a Palestina como um Estado durante um futuro processo de paz. "Estamos certos de que a criação do Estado é um direito inalienável do povo palestiniano. Um cessar-fogo vai colocar-nos no caminho para o reconhecimento de um Estado palestino e uma solução de dois Estados que garanta paz e segurança para palestinos e israelitas", vincou.
Num novo balanço do conflito, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, informou hoje que registou 59.587 mortos e 143.498 feridos. Nessa contagem incluem-se pelo menos 115 mortos por fome ou desnutrição desde o início da ofensiva israelita, em outubro de 2023.
O Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) alertou, na quarta-feira, para o aumento de mortes de crianças por subnutrição.
A guerra em curso em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo extremista palestiniano Hamas em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1200 mortos e mais de duas centenas de reféns.